Título: Escolha insensata
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 28/06/2007, O Globo, p. 2

O Senado foi confundido com o Conselho de Ética, com a falta de cerimônia com que parte de seus membros tentou arquivar a denúncia contra o senador Renan Calheiros, naquelas sessões com toques de velhacaria transmitidos ao vivo. O Senado não é aquele Conselho; é maior do que ele, e ontem perdeu uma chance de estabelecer a diferença.

O PMDB e os governistas, - e talvez o governo, já que o presidente Lula deu sinal de que pode entrar na briga - deixaram de agarrar a melhor possibilidade de começar tudo de novo, assegurando a Renan o que ele tem reclamado: o devido processo legal, com investigação, prova e contraprova, e não o linchamento, o julgamento político e sumário, assentado na luta política e não na busca da justiça. Tal chance estava na aceitação da proposta do PSDB, de que os partidos se empenhassem em recompor o Conselho de Ética, indicando cada qual os melhores entre os seus. Lançou seu líder Arthur Virgílio para presidente, sugerindo como relator o senador petista Aloysio Mercadante.

A rejeição de Arthur como presidente pelos governistas e defensores de Renan ainda pode se revelar um ato estúpido. Foi certamente a opção pelo confronto e pela decisão de absolver Renan a qualquer custo.

Arthur, mais que todos em seu partido, tem repelido tanto a chicana do Conselho de Ética como a sede de fuzilamento político, recordando que, como resistente da ditadura e combatente pela democracia, não pode concordar com julgamentos políticos nem com a condenação sumária por conveniência política. Não se alinhou com os gaviões do DEM que pediram o afastamento de Renan da presidência do Senado, nem tampouco com a desatinada tropa de choque que buscou, sem constrangimentos, dar fim à denúncia sem maiores satisfações à opinião pública.

- Foram as seguidas trapalhadas do Conselho que geraram a indignação externa e a situação interna, que tornaram tudo mais complicado. Um Conselho de alto nível mudaria este cenário. Mas se querem continuar com as trapalhadas, vamos ver onde chegaremos - diz Jarbas Vasconcelos, o único peemedebista que apoiou a proposta tucana.

No avançado da noite, não começada ainda a reunião do Conselho de Ética para eleger o novo presidente, o PMDB marchava para confrontar um candidato seu (possivelmente o senador Leomar Quintanilha), com o líder tucano. Um prenúncio do pior dos cenários. Eleito Arthur ou algum nome que conferisse respeito ao Conselho, o PSDB continuaria lá, dizia antes da reunião o senador tucano Sérgio Guerra. Eleito outro nome descomprometido com a seriedade do processo, o PSDB cairá fora. E com isso, deslegitimará o que resta do Conselho.

Ou será este mesmo o plano dos aliados de Renan, forçando a entrega do caso ao STF? Entregar os julgamentos ao Supremo parece uma solução mais racional, mas quando isso for estabelecido em lei. Hoje, vigora o julgamento dos pares pelos pares.