Título: Planalto e PMDB vetam líder tucano
Autor: Franco, Ilimar e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 28/06/2007, O País, p. 3

Virgílio se lançou para vaga de Sibá, mas Conselho escolheu Quintanilha, aliado de Renan.

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto e o PMDB vetaram a indicação do líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), para presidir o Conselho de Ética e lançaram, ontem à noite, o nome de Leomar Quintanilha (PMDB-TO) para o cargo. Depois de assistir a renúncias em série, primeiro de dois relatores e por fim do presidente Sibá Machado (PT-AC), o Conselho enfrentou, à noite, um embate entre governistas e oposição, na luta para garantir o comando do processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Quintanilha derrotou o tucano por nove votos a seis e é o novo presidente do Conselho.

Logo depois de eleito, Quintanilha revelou o desejo de ter como relator o líder do PSB, Renato Casagrande (ES), que agrada à oposição por ser considerado independente na base governista. Casagrande pediu tempo para pensar, mas sinalizou que deverá aceitar o convite.

- Não aceitei porque ainda não conversei com Quintanilha. Espero conversar amanhã (hoje) cedo e dar a resposta - disse ele.

Mais cedo, o clima ficou tenso no Conselho:

- Não vamos aceitar a continuação da farsa. Fizemos uma proposta de grandeza, e ela não foi aceita - disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), referindo-se aos nomes de Arthur Virgílio e do petista Aloizio Mercadante, este para relator do caso Renan. A oposição chegou a ameaçar se retirar, mas acabou votando e sendo derrotada.

Em vez de ajudar o presidente do Senado, a operação armada pelos aliados de Renan para tirar Sibá Machado da presidência do Conselho acabou expondo ainda mais a divisão entre os governistas. E, por pouco, a oposição não assumiu o comando do processo contra Renan. Diante da demora do PMDB e do PT para arrumar um substituto para Sibá - e também um novo relator para o processo, que está parado há oito dias -, o PSDB e o DEM lançaram, à tarde, a candidatura de Virgílio para a vaga. O líder tucano chegou a se comprometer com a indicação de Mercadante para a relatoria do caso.

- Não devemos prolongar o que está sendo uma agonia para o Congresso. Precisamos eleger ainda hoje (ontem) um presidente para o Conselho de Ética. Por isso, o PSDB decidiu lançar meu nome como candidato e pretendo indicar Mercadante como relator - antecipou Virgílio, que depois foi saber se o colega aceitaria a função.

A iniciativa da oposição, num primeiro momento, foi bem recebida por Renan, que na véspera enviara um bilhete a Virgílio pedindo sua ajuda no processo. Foi o suficiente para que se levantassem suspeitas de um novo acordo para inocentar o presidente do Senado.

- Eu não tenho discutido as decisões do Conselho, mas o Arthur Virgílio é um grande nome, um grande quadro e um grande amigo. Tem condições de ocupar qualquer cargo. E Mercadante é um homem honrado e isento - disse Renan.

- Eu me sinto isento para ocupar o cargo de presidente. Não há bilhetinho ou pressão, nem mesmo de toda a imprensa junta, que me faça aceitar uma barganha. Essa é uma atitude política com letras maiúsculas para tentarmos resgatar a imagem do Senado - reagiu o líder tucano.

No meio da tarde, enquanto Renan presidia a sessão do Senado - que aprovou a indicação de Virgílio como titular do Conselho, no lugar da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) -, governistas e oposicionistas se revezavam em conversas paralelas na tentativa de fechar um acordo para definir o comando do Conselho de Ética.

O PMDB, que teria direito a indicar o presidente, por ser a maior bancada da Casa, se recusou a ceder a vaga para Virgílio. Nos bastidores, governistas se queixavam de que o líder tucano se apresentara como um salvador da pátria. Outros argumentaram que a eleição de Virgílio tiraria um voto da oposição, pois o presidente não vota.

Prevaleceu o temor dos governistas de pôr nas mãos da oposição o destino não só de Renan, como também de Joaquim Roriz (PMDB-DF), que deverá enfrentar processo no Conselho. Foi proposta, então, uma troca: Mercadante assumiria a presidência e Virgílio, a relatoria. Novamente, o PMDB vetou o nome de Virgílio.

- Eu só aceitaria ser indicado para o Conselho se fosse para ter um consenso - avisou Mercadante saindo do páreo.

Depois disso, o PSDB avisou que iria para a disputa, e o PMDB indicou o nome de Quintanilha para a vaga deixada por Sibá.