Título: Dois anos depois, PT não puniu seus mensaleiros
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 28/06/2007, O País, p. 10

Sindicância aberta em 2005 não deu em nada; investigação, pedida oito vezes, foi vetada por corrente majoritária.

SÃO PAULO. Passados dois anos do escândalo do mensalão, que provocou a maior crise da história do PT, a única pessoa punida pelo partido foi o ex-tesoureiro Delúbio Soares. Uma comissão de sindicância criada em julho de 2005, com prazo de 30 dias para apresentar um relatório, nunca surtiu resultado. A resolução do 13º Encontro Nacional, segundo a qual os episódios deveriam ser apurados após a eleição de 2006, foi ignorada, assim como as determinações do diretório nacional para que fossem investigados os envolvidos no caso do dossiê contra os tucanos, na campanha eleitoral do ano passado.

O PT está decidido a esquecer o passado. Parte do partido pensa em criar mecanismos que evitem turbulências no futuro. Após pedir oito vezes a investigação dos mensaleiros - barrada pelo antigo Campo Majoritário -, os petistas hoje agrupados em torno do texto "Mensagem ao partido" jogaram a toalha. No 3º Congresso Nacional do PT, marcado para setembro, vão propor a criação de um código de ética e de uma corregedoria interna, mas com foco no futuro.

- Insistimos oito vezes lá atrás (sobre a investigação), mas a corrente majoritária conseguiu vetar. Agora, passou o tempo político. Vamos propor um código de ética, mas o foco é no futuro - disse o secretário-geral, Joaquim Soriano.

Em julho de 2005, o PT criou uma comissão de sindicância para investigar os seis deputados que receberam dinheiro do valerioduto: João Magno, João Paulo Cunha, José Mentor, Josias Gomes, Paulo Rocha e Professor Luizinho. A comissão tinha prazo de um mês para ouvir os mensaleiros e apresentar um relatório. O resultado do trabalho nunca veio à tona.

- Aquilo foi um fiasco total. Não era para valer e não deu em nada - resumiu Soriano.

Reeleitos, mensaleiros como João Paulo Cunha hoje se apegam à bandeira da reforma política para justificar os erros de dois anos atrás. O único punido foi Delúbio. Em sua carta de despedida do PT, disse que muitos que votaram pela sua expulsão o procuravam para pedir dinheiro nas campanhas.

Sílvio Pereira, secretário-geral presenteado com uma Land Rover, nem sequer foi investigado, pois se desfiliou. Dirceu, cassado em 2005 pela Câmara, aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal e prepara uma campanha por sua anistia. Os dois estão na lista dos 40 acusados pela Procuradoria Geral da República por formação de quadrilha.

Em seu 13º Encontro Nacional, em 2006, o PT aprovou uma resolução que deixava a lavagem de roupa-suja para depois das eleições. O presidente do partido, Ricardo Berzoini, disse que os casos seriam tratados na primeira reunião do diretório nacional após a eleição, o que não ocorreu. Petistas que protagonizaram outros escândalos, como Luiz Gushiken, Antonio Palocci, Rogério Buratti, Marcelo Sereno, Wilmar Lacerda e Wladimir Polleto, nunca foram investigados pelo partido. O mesmo aconteceu com os envolvidos no caso do R$1,7 milhão apreendido com petistas para a compra de um dossiê contra os tucanos.