Título: Ausência de parceiro alivia Lula
Autor: Oliveira, Eliane e Seleme, Ascânio
Fonte: O Globo, 28/06/2007, Economia, p. 23

ASSUNÇÃO e WASHINGTON. O Brasil tem mais a ganhar do que a perder com a ausência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na reunião de chefes de Estado do Mercosul. Nos bastidores, afirmam fontes ligadas ao presidente Lula, há uma sensação de alívio no governo brasileiro, que espera que o bloco se volte para questões internas nesta cúpula, como as dificuldades de Paraguai e Uruguai para se adequarem à integração física e comercial na região.

Além de Chávez, deverão faltar ao encontro os presidentes da Colômbia, Alvaro Uribe, e do Peru, Alan Garcia, dois desafetos do venezuelano. Havia rumores ainda de que o líder boliviano, Evo Morales, também não estaria presente. Fontes do governo da Bolívia afirmaram, no entanto, que Morales planeja ir à Suíça hoje - para tentar convencer a Federação Internacional de Futebol (Fifa) a permitir novamente a realização de partidas em seu país -, mas deve chegar a tempo para a reunião de amanhã.

- Sem Chávez, as conversas ficam menos politizadas, com discursos menos extravagantes - disse o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), embaixador José Botafogo Gonçalves.

A verdade é que o governo brasileiro está sendo pressionado pelo setor produtivo. Empresários se preocupam com uma possível resistência dos Estados Unidos e da União Européia (UE) a negociarem acordos de livre comércio com o Mercosul, devido à presença de Chávez no bloco. Também há rejeição no Congresso brasileiro, irritado por ter sido chamado de "papagaio dos EUA" pelo venezuelano.

Ontem à noite, Índia e EUA aprovaram uma nota conciliatória, uma semana após o fracasso da reunião do G-4, que conta ainda com Brasil e UE. O ministro do Comércio indiano, Kamal Nath, afirmou, depois de se reunir com sua colega americana, Susan Schwab, que as sensibilidades da cada país têm de ser respeitadas e que "Susan e eu acharemos essa convergência". Já Schwab sugeriu que a Índia assuma a liderança dos países em desenvolvimento. (Eliane Oliveira, enviada especial, com agências)