Título: Relatório reservado da FAB confirma denúncias feitas por controladores
Autor: Doca, Geralda e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 28/06/2007, Economia, p. 24

Segundo documento, equipamentos são ultrapassados e "buraco negro" existe.

BRASÍLIA. Um documento reservado do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), discutido ontem em reunião secreta da CPI do Apagão no Senado, confirma as denúncias dos controladores de vôo sobre as deficiências do sistema, negadas até agora pelo Comando da Aeronáutica.

Segundo o relatório, os equipamentos de controle de tráfego são antigos, empregam tecnologia ultrapassada e, diante disso, a Força Aérea Brasileira (FAB) tem problemas para repor as peças dos radares. Os órgãos de controle, cita o texto, estão no limite da capacidade operacional, em termos de equipamentos e pessoal. O Decea confirma também a falta de cobertura de radares e de comunicações - o chamado "buraco negro".

"Os sistemas de comunicações, navegação e vigilância têm apresentado algumas limitações para a gestão do tráfego aéreo, tendo em vista que muitos equipamentos instalados, pelo tempo em uso e pela antiga tecnologia e conceitos empregados, não têm atendido às exigências das operações aéreas, nem possibilitado eventuais aperfeiçoamentos", afirma o relatório, que acrescenta: "Mesmo com a implantação de diversos equipamentos de detecção e de telecomunicações, a falta de cobertura radar e de comunicações a baixa altura, em áreas remotas e fronteiriças, não permite que seja realizada a identificação de alguns tráfegos".

Em nota, Aeronáutica afirma que sistema é seguro

O documento - chamado Plano de Desenvolvimento do Sistema de Controle do Espaço Aéreo com metas até 2020 - foi elaborado em novembro de 2005 e assinado pelo então diretor do Decea, brigadeiro José Américo, atual integrante do Estado-Maior da Aeronáutica. Entretanto, uma fonte do meio militar revela que não houve mudanças significativas no sistema até hoje.

Em nota, a FAB informou que o documento representa uma análise estratégica do sistema, com o fim de direcionar as ações do Comando, a médio e longo prazos. "Para que seja compreendido, ele deve ser avaliado dentro do contexto da política de melhoria contínua do controle do espaço aéreo brasileiro", diz a nota, acrescentando que os sistemas e equipamentos usados no controle do espaço aéreo atendem plenamente aos quesitos de segurança e eficiência.

Segundo o documento, o Decea tem dificuldade para modernizar o sistema, devido à demora no recebimento de equipamentos, à diversidade de máquinas e à descontinuidade industrial e comercial de produtos e componentes. Há ainda, diz o relatório, falta de controladores e técnicos e custo elevado de material e manutenção.

O relatório afirma ainda que as cartas aeronáuticas visuais apresentam vazios cartográficos (não mostram obstáculos aos vôos, como montanhas), em áreas desprovidas de mapeamento terrestre atualizado, e que há desarticulação entre as áreas da FAB responsáveis pela confecção dessas cartas.

O Decea também admite que as rotas oceânicas e os atuais meios de comunicação e navegação não atendem às necessidades. Outra deficiência é a falta de equipamentos que permitam pousos com pouca visibilidade nas áreas atendidas pela aviação comercial.

Segundo um dos participantes da reunião, ao ser perguntado na CPI sobre os problemas do sistema, o atual diretor do Decea, Ramon Borges Cardoso, teria dito apenas que a FAB tomou medidas para contornar o problema, como o concurso para contratar controladores e a convocação de militares da reserva para reforçar a equipe.

Tempo de treinamento foi reduzido à metade

Para agilizar a entrada dos concursados, a FAB reduziu pela metade (de 95 para 45 horas) o período de treinamento dos controladores, o que está gerando apreensão nesses profissionais, devido à responsabilidade do trabalho.

Depois do encontro, o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, disse que os equipamentos podem se tornar obsoletos, sem investimento, mas destacou que o maior problema é de falta de pessoal:

- Qualquer técnico sempre estará querendo um equipamento novo. O problema é balancearmos o que é necessário investir. Hoje, o maior investimento é no homem: mais pessoas e melhor qualificação.