Título: Novo relator de caso Renan é `desconvidado¿
Autor: Vasconcelos, Adriana e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 29/06/2007, O País, p. 8

Casagrande aceitara convite, mas presidente do Conselho de Ética resiste a manter a PF nas investigações.

BRASÍLIA. Menos de 24 horas depois de convidado para relatar o caso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no Conselho de Ética, o senador Renato Casagrande (PSB-ES) ¿ que aceitara o posto ¿ foi surpreendido ontem com o recuo do novo presidente do órgão, Leomar Quintanilha (PMDB-TO). A principal razão para o recuo foi a insistência de Casagrande em dar continuidade à perícia da Polícia Federal sobre os documentos de defesa apresentados por Renan.

Sentindo-se ¿desrespeitado¿, Casagrande criticou a ¿desmoralização do Conselho¿ e já embarcava de volta para o estado, quando recebeu uma ligação de Quintanilha. Os dois acertaram uma reunião hoje para tentar resolver o impasse que já paralisa há quase dez dias os trabalhos do Conselho.

¿ Está sustado o convite para que eu assuma a relatoria do processo do Renan. Viver esse efeito sanfona não dá, de retirar convite, refazer convite. Agora, vou avaliar para ver se vou ser relator, com presidente indo e voltando na posição ¿ avisou Casagrande, ontem à noite.

¿O Conselho desmoralizado é o Senado desmoralizado¿

Quintanilha chegou ao Senado quase no fim da tarde e só atendeu Casagrande pelo telefone, depois de cinco tentativas frustradas que começaram pela manhã. Cercado por jornalistas, Quintanilha explicou que não havia ¿desconvidado¿ Casagrande, mas admitiu que, primeiro, consultaria a assessoria legislativa para se certificar dos limites da atuação do Conselho.

¿ Não mudei de idéia. Não o desconvidei. Mas quero uma consultoria jurídica para me auxiliar. A dúvida que tenho é sobre a competência do Conselho ¿ justificou Quintanilha.

Irritado com o vai-e-vem de Quintanilha, Casagrande desabafou ontem à tarde:

¿ Eu aceitei o convite desde cedo. Não é por falta de relator que esse processo não anda. Isso está passando do limite. O Senado é hoje o Conselho. E o Conselho desmoralizado é o Senado desmoralizado. O ambiente aqui no Senado pode piorar.

Desde cedo, era evidente a preocupação dos líderes governistas com a escolha de Casagrande. Antes mesmo de falar com Quintanilha, Casagrande foi procurado pelos líderes do PMDB, Valdir Raupp (RO); do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR); e do PT, Ideli Salvatti (SC). Como Casagrande se mostrava irredutível na idéia de manter a PF na investigação, foi sugerida, de novo, a criação de uma comissão de três senadores, numa tentativa clara dos aliados de Renan de manter a relatoria sob controle.

O líder do DEM, Agripino Maia (RN), mostrou surpresa:

¿ Se Casagrande tiver sido mesmo desconvidado, o crédito de confiança que havíamos dado ao novo presidente do Conselho de Ética será subtraído.

Renan se compara a Lula durante o mensalão

Enquanto os integrantes do Conselho não se entendiam, o presidente do Senado reforçava a estratégia de se vincular ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Numa conversa com poucos jornalistas, Renan ressaltou que apoiou Lula quando ele enfrentou a sua pior crise política, em 2005, no escândalo do mensalão. Para Renan, Lula repete o que ele fez recentemente:

¿ O Lula tem sido uma pessoa solidária. Apóia no que tem de apoiar, mas pertencemos a poderes diferentes. Quando houve a crise do Lula, eu também o apoiei com a mesma compreensão.

Renan comparou sua situação à de Lula e até mesmo à do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que durante a investigação da Operação Navalha reagiu ao ver a PF divulgar o nome de homônimo dele que teria recebido presente da construtora Gautama.

¿ O denuncismo não faz bem à democracia, ressuscita a UDN num momento em que todo mundo quer que o Brasil cresça. Quiseram, tentaram, fazer isso com o Lula; devassaram sua família e não conseguiram. Tentaram fazer isso com outros poderes, mas o Gilmar (Mendes) reagiu com muita altivez. Agora é com o Legislativo, que reagirá a altura ¿ disse Renan.

Sem falar diretamente que tem o suporte do Planalto, Renan afirmou que tem o apoio incondicional do PT e do PMDB. E repetiu que não vai renunciar:

¿ Acharam que era fácil me derrubar. Quem imaginou que eu iria embora diante de alguma maledicência, estava errado. Minha resistência é ilimitada. Tenho couro. Eu achei que deveria mostrar as provas que eu tinha. Mas não adianta mostrar prova para quem não quer ver.

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