Título: Roriz: 'É crime pedir dinheiro emprestado?'
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 29/06/2007, O País, p. 10

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Parlamentar do PSOL contesta versão e apresenta supostas irregularidades em documentos

Senador se defende no plenário, cita Deus, quase chora e se diz um homem bom: "Nunca demiti um funcionário"

BRASÍLIA. O senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), ex-governador do Distrito Federal, reapareceu ontem no Congresso, após seis dias, e foi à tribuna para se defender das suspeitas contra ele após a divulgação de trechos comprometedores de escuta telefônica realizada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Brasília, na Operação Aquarela.

A operação flagrou um esquema de fraude no Banco Regional de Brasília (BRB). Na gravação, o senador conversa com o ex-presidente do Banco de Brasília Tarcísio Franklin de Moura, preso na operação. Os dois tratam da partilha de um cheque de R$2,2 milhões do empresário Nenê Constantino.

- Sempre procurei fazer o bem, senhor presidente. Nunca derrubei o barraco de um pobre, nunca demiti um funcionário, por mais humilde que fosse, nunca demiti. Como governador por 14 anos, não conheço o que é demissão de um funcionário. Dei leite e pão para crianças subnutridas, cestas básicas para quem passava fome, casa, moradia para quem morava nas favelas, só pensava, dia e noite, em quem passava fome.

E apelou ainda:

- Pergunte nas periferias de Brasília! Vá a qualquer cidade e pergunte se, algum dia, tive algum comportamento que não fosse ético!

Roriz fez um discurso melodramático, no qual afirmou que é vítima da ação de seus adversários e que, nos últimos dias, tem chorado e rezado a Deus. Mas não acrescentou fato novo à sua defesa. O senador reafirmou a versão de que pedira um empréstimo de R$300 mil a Constantino, dono de empresas de ônibus no DF e da Gol, para pagar um bezerro num leilão.

- Meus amigos, como sofri esta semana, chorei, rezei muito. Não falei antes porque o sofrimento era grande e, mesmo não cometendo nenhum ato ilícito, me sentia envergonhado.

No discurso, Roriz defendeu Constantino, de quem disse ser amigo íntimo de longa data. Ele pôs os documentos que comprovariam sua versão à disposição do corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), e informou ter enviado cópias aos demais 79 senadores.

- Será que um senador não poderia pedir um empréstimo a um amigo? Que censura poderia ser feita a alguém que assim agisse? Existe algum artigo no Código Penal e no regimento interno do Senado Federal dizendo que pedir dinheiro emprestado é crime? Quem em sua vida nunca pediu empréstimo a um amigo ou a algum banco?

Roriz estava muito tenso e ficou com a voz embargada e à beira de chorar, quando se referiu à família e quando leu passagem da Bíblia, para dizer que pensara em se licenciar ou renunciar. Ele acusou os adversários pelo vazamento dos diálogos gravados pela Polícia Civil.

- Parece que estão tentando, ainda muito cedo, iniciar o processo político de 2010. Ao que tudo indica, a eleição para os meus adversários já começou.

Após o discurso, Roriz, o senador José Nery (PSOL-PA) disse que os documentos apresentados eram inconsistentes. Nery disse que o contrato que comprovaria o empréstimo de R$300 mil de Constantino não tinha sido reconhecido em cartório. Nery também contestou a nota fiscal de R$532 mil, que corresponderia à compra de um bezerro da Fazenda Água Limpa, que pertence à Associação de Ensino de Marília Ltda, a Universidade de Marília (Unimar). O senador do PSOL mostrou que a nota tem como data o dia 1º de março, mas foi transmitida por fax e que no cabeçalho a data de transmissão é 30 de maio de 2005, às 9h26m.