Título: Venezuela não vai se retratar com parlamentares, como propôs Amorim
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 29/06/2007, Economia, p. 28

EL PATITO FEO: Sanz diz que direita é contra entrada de seu país no Mercosul.

Para chanceler, Chávez apenas reagiu à intromissão do Senado brasileiro.

ASSUNÇÃO. A sugestão do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em entrevista ontem ao GLOBO, para que Hugo Chávez tente uma aproximação com o Congresso brasileiro, foi mal recebida pelas autoridades venezuelanas que participam da reunião de cúpula de chefes de Estado do Mercosul. O vice-chanceler da Venezuela, Rodolfo Sanz, afirmou ontem na capital paraguaia que seu governo não fará qualquer retratação aos parlamentares brasileiros em troca da aprovação, pelo Senado, do protocolo de adesão de seu país ao bloco.

Sanz disse que houve intromissão dos senadores em assuntos internos - a não-renovação da licença da emissora de televisão RCTV - e que há no Parlamento brasileiro representantes da direita que defendem os interesses de grupos econômicos contrários ao ingresso da Venezuela no Mercosul:

- Nossas decisões internas não podem ser condicionadas à aprovação do protocolo de adesão. Há setores políticos da direita brasileira que vêem o ingresso da Venezuela no Mercosul como um elemento pernicioso às negociações do bloco com outros países. Essa postura encobre o desejo de grupos econômicos que não apostam na integração verdadeira.

Há um mês, Chávez, que está em Moscou e não participará da cúpula, chamou os parlamentares brasileiros de "papagaios dos americanos". Foi sua reação a uma carta do Senado brasileiro pedindo que ele revisse a decisão de não renovar a licença da RCTV.

- O presidente Chávez não tem do que se retratar, nem de se desculpar. Ele responde às declarações que ferem a soberania do país. Nisso, não fazemos qualquer tipo de concessão - disse Sanz.

Ele também criticou a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em estudo recente, a CNI alertou que, quando o processo de adesão da Venezuela ao Mercosul for totalmente ratificado pelos Congressos dos quatro países do bloco (Uruguai e Argentina já aprovaram, faltam Brasil e Paraguai), os venezuelanos se beneficiarão do livre mercado. No entanto, não há ainda garantia de que o país vizinho reduzirá suas tarifas de importação, devido ao atraso na apresentação dos cronogramas.

- São inaceitáveis as declarações dessa associação, que vê a integração como simples comércio e como maximização de lucros de suas empresas. Isso não é integração - disse Sanz. - Nenhum país abre suas fronteiras para ser liquidado por multinacionais.

Procurada, a CNI disse que não comentaria as declarações de Sanz.

Garcia vê discurso ideológico de industriais

Amorim disse que sua sugestão não é para Chávez pedir desculpas, mas tentar uma aproximação positiva:

- Uma palavra simpática do presidente Chávez em relação ao Congresso brasileiro, que afinal de contas foi eleito legitimamente. Acho que isso ajudaria. A boa vontade sempre é positiva, de lado a lado.

Já o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, disse que há "cegueira" da parte de alguns industriais brasileiros contrários ao ingresso da Venezuela no Mercosul.

- Em alguns casos, percebo um discurso de natureza político-ideológica.

Sanz, que fora cobrado pelo chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, pelo atraso na apresentação dos cronogramas, assegurou que seu país cumprirá o novo prazo, 9 de setembro.