Título: Acusações são de corrupção
Autor: Lima, Maria e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 30/06/2007, O País, p. 3

Quintanilha não explica denúncias e processos abertos contra ele

BRASÍLIA. O novo presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), não havia explicado, até a noite de ontem, as denúncias de corrupção que motivaram a abertura de dois processos contra ele no Supremo Tribunal Federal. Quintanilha se limitou a dizer, anteontem, que é inocente na denúncia do Ministério Público de Tocantins, na qual aparece como envolvido num suposto esquema de cobrança de propina em troca de emendas ao Orçamento da União. Seu irmão Cleomar Quintanilha figura como um dos cabeças da organização desbaratada pela Polícia Federal.

As investigações sobre supostas ligações do senador com uma quadrilha responsável por fraudes em licitações, lavagem de dinheiro, propinas, superfaturamento e não execução de obras se deram a partir de três emendas ao Orçamento de 1998, no valor de R$280 mil, destinadas a municípios de Tocantins. Cleomar, dono da Construtora e Incorporadora Rochedo Ltda, seria o elo entre o braço político e o empresarial da quadrilha. O irmão e um assessor de Quintanilha teriam recebido 14 cheques, no valor total de R$283.200, de empreiteiras beneficiadas por emendas dele.

"Não devo nada. Não me sinto constrangido"

O relatório da CPI do Futebol (Nike), de 2001, também registra depósitos feitos pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nas contas de Quintanilha, que era, e ainda é, presidente da Federação Tocantinense de Futebol. Não houve prestação de contas.

- Não devo nada. Meu comportamento na Casa fala pela minha biografia. Não me sinto constrangido por isso - disse ele quinta-feira à noite, ao ser perguntado sobre as denúncias.

Cleomar é apontado pelo MP como "agente do crime organizado, dando provimento ao crime junto à Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional", e "agindo junto ao gabinete do senador Quintanilha". A ação é encabeçada por Mário Lúcio Avelar e outros procuradores.

Um dos casos citados pelo MP mostra operação que teria sido comandada por Cleomar. Simularia a aprovação de uma contrapartida para liberação de recursos para obras de combate à doença de Chagas. Foi feita, segundo o MP, uma licitação fantasiosa para se aprovar a igualmente falsa contrapartida por parte da Prefeitura de Natividade (TO), necessária para o convênio. Foi simulada, então, a contratação de um convênio de R$36.888, permitindo a aprovação da suposta contrapartida do município quando da realização do convênio, de R$370.000.

A auditoria apontou um superfaturamento de R$142.541,07 nas obras, ou 62% do valor do convênio.