Título: Pedido de processo contra Renan completa um mês e está paralisado
Autor: Lima, Maria e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 30/06/2007, O País, p. 4

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Senadores temem que conclusão seja inviabilizada.

Conselho de Ética continua sem relator e seu presidente pode ser afastado.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A representação do PSOL pedindo a abertura de processo por quebra de decoro contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) , completou ontem um mês com o Conselho de Ética totalmente paralisado, sem relator, e com o presidente na iminência de também ser afastado. Ontem, as perspectivas de retomada dos trabalhos eram as piores possíveis. Além da guerra jurídica que os aliados de Renan agora pretendem travar, para impedir novas investigações e perícia pela Polícia Federal, a possibilidade de substituição de Leomar Quintanilha (PMDB-TO) no comando do Conselho deixa senadores assustados com o desfecho que pode inviabilizar a conclusão do processo.

O "desconvite" ao senador Renato Casagrande (PSB-PE) para que assumisse a relatoria do caso foi chamado de palhaçada por Heráclito Fortes (DEM-PI).

- Lamentável, mas uma palhaçada. Não se faz isso. Está se brincando com uma coisa séria - disse Heráclito, após seminário do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), ontem, em São Paulo, que contou ainda com a presença de Aloizio Mercadante (PT-SP), Arthur Virgilio (PSDB-AM) e Agripino Maia (DEM-RN).

Casagrande disse que Quintanilha ainda não retirou o convite. Mas ele não aceitará o cargo se o parecer jurídico encomendado à assessoria do Senado restringir ou proibir que a Polícia Federal aprofunde a investigação. O senador alegou que a consulta não é argumento que inviabilize a designação do relator.

- Estamos há um mês e dez dias, desde que o escândalo estourou, sem conseguir dar uma resposta à sociedade sobre essas denúncias. Até agora o Conselho só produziu renúncias - disse Casagrande. - O nível de interferência externa engessou o Conselho de Ética. Forças poderosas e estranhas estão por trás de tudo isso.

- O Renan tem de entender que o Conselho tem de investigar a fundo. Ele não tem outra saída. Se isso continuar desse jeito, ele pode até não ser punido politicamente aqui, mas vai ser punido lá fora, pela sociedade. Ele vai ficar marcado por isso - alertou Casagrande.

Para Agripino Maia, Renan está interferindo diretamente nas decisões do Conselho:

- Está muito claro ao país que o presidente do Senado e do Congresso está operando, pelos meios de que dispõe, o Conselho. Está passando para a sociedade o pior dos exemplos.

"O Senado precisa dar a volta por cima", diz Agripino

Agripino criticou a relação próxima entre Renan e o presidente Lula.

- Isso não ajuda a tarefa de todos nós, que tem de ser de punição. O Brasil não sabe punir. O Senado precisa dar a volta por cima e assumir com veemência necessidade de punir, nem que isso custe a própria carne. Ou se tomam providências, ou a sociedade vai abdicar da necessidade de existir um Congresso.

O vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), aliado de Renan, já sugeria ontem que talvez o caso tenha de ser remetido para ser resolvido pela Mesa, presidida justamente pelo réu:

- Todo o movimento dirigido ao Conselho diz respeito mais a uma queixa-crime do que a uma quebra de decoro parlamentar, e eu aguardo o processo na Mesa caso ele volte para o devido posicionamento.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), negou que Casagrande tivesse sido convidado oficialmente e refutou a versão de que o PMDB esteja tentando livrar Renan:

- O Conselho vai votar o relatório, mas da forma correta.

Internado no Hospital Sírio Libanês em São Paulo, o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) divulgou nota cobrando do a votação do seu relatório que propõe o arquivamento do caso Renan.