Título: 'No passado tinha corrupção, mas não como agora'
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 30/06/2007, O País, p. 8

Dom Geraldo Majella chama atos ilícitos de políticos de "câncer".

SALVADOR. Ao comemorar ontem, na capital baiana, os 50 anos de ordenação sacerdotal, o arcebispo-primaz do Brasil, cardeal dom Geraldo Majella Agnelo, disse que nunca viu tanta corrupção no Brasil como nos dias atuais.

- Vejo hoje uma generalização dessa situação de desrespeito, de falta de ética, isso é triste - lamentou, lembrando que "no passado tinha (corrupção), mas não tanto como agora".

Para o cardeal, os sucessivos escândalos da classe política, como as denúncias que envolvem o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado de pagar pensão à mãe de uma filha dele com dinheiro do lobista de uma construtora, e o do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), flagrado negociando a partilha de R$2,2 milhões, não pode contaminar o cidadão.

- A população não deve se deixar corromper - declarou, enfatizando que as atitudes (dos políticos) não são "exemplos para ninguém".

Dom Geraldo comparou os atos ilícitos a "um câncer que toma conta do corpo e que vai acabar com a vida" e destacou a necessidade de as pessoas tomarem consciência das coisas, "do contrário nós vamos a uma situação de caos". Para o arcebispo, se a corrupção não for contida, "vai se tornar incontrolável e até ingovernável".

Arcebispo se diz chocado com a violência no país

Dom Geraldo se disse "imensamente chocado" também com o crescimento da violência no Brasil, e citou o caso do diácono Sérgio Fontes, que morreu esta semana, em Salvador, depois de levar um soco do servidor público Edílson Santos Souza Júnior, que queria furar a fila de um caixa eletrônico. Para o cardeal, a Igreja pode ajudar pregando a necessidade do "respeito ao próximo, da dignidade humana, do entendimento e do diálogo, jamais da violência".

Ele considera também que manifestações públicas como as que têm sido realizadas pelos amigos e colegas do diácono são boas, "pois, às vezes, é preciso não só discutir as coisas em salas fechadas".

Nas suas cinco décadas de sacerdócio, ele disse que a Igreja Católica também sabe reconhecer seus erros.

- Enquanto estivermos neste mundo, a Igreja será sempre santa e pecadora. Nós rezamos na própria liturgia pedindo a Deus que tenha cuidado com a sua Igreja, pois ela é santa e pecadora - repetiu, lembrando que "Deus não escolhe anjos para governar a Igreja, mas homens, e eles são limitados. E cada um de nós deve ter muito cuidado para não deixar que prevaleça a nossa incompetência ou nossos defeitos em detrimento da comunidade".

* Da Agência A Tarde