Título: Acidentes em usinas na Alemanha atrapalham acordo com o Brasil
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 30/06/2007, Economia, p. 34

Incêndio e curto-circuito envolveram reatores iguais aos de Angra 2 e Angra 3.

BERLIM. Acidentes ocorridos com duas usinas nucleares no norte da Alemanha, na quinta-feira, fizeram aumentar a pressão sobre o governo alemão para manter a decisão de abandonar a energia atômica. Segundo políticos do Partido Social Democrata (SPD, que participa da coalizão de governo) e da oposição, o caso poderá também influenciar de forma negativa as negociações para a retomada do acordo nuclear entre Brasil e Alemanha.

Huseyin Aydin, do partido A Esquerda, que recentemente exigiu no parlamento uma recusa do governo a uma reedição do acordo nuclear, disse que os reatores acidentados têm tecnologia semelhante à de Angra 2 e Angra 3:

- As últimas panes no norte da Alemanha mostram que não existe segurança com a energia nuclear.

Ontem, começaram os estudos das causas dos acidentes nas usinas de Kruemmel, que incendiou, e de Brunsbuettel, que também foi desligada depois de um curto-circuito. Um porta-voz da empresa de eletricidade responsável, a Vattenfall, excluiu o perigo de liberação da radioatividade. Mas um especialista do Greenpeace que mediu a radioatividade em Kruemmel disse que "foi sorte não ter ocorrido uma catástrofe", porque o incêndio poderia ter atingido o centro do reator, por meio dos cabos de ligação.

Sobretudo o incêndio fez ressurgir na Alemanha uma grande polêmica sobre o perigo da energia nuclear. As dezessete usinas do país serão desligadas entre este ano e 2021, em conseqüência de uma decisão do governo anterior, do ex-chanceler federal Gerhard Schroeder, tomada em 2000, de abandono do uso da energia nuclear.

Mas, com a divulgação dos últimos dados sobre o aumento das emissões de gás carbônico, a indústria começou a tentar pressionar o governo a rever sua decisão, alegando que a energia nuclear não polui o meio ambiente. Na terça-feira, o futuro da energia nuclear será o tema central de uma cúpula sobre energia, da qual participarão a chanceler Angela Merkel, ministros e representantes do setor de energia.

O ministro do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, disse que os acidentes mostraram que a qualquer momento pode acontecer algo pior. Em termos de energia atômica, não existe segurança absoluta. As usinas alemãs têm a fama de serem as mais seguras do mundo, mas "assim mesmo de vez em quando incendeiam ou explodem", afirmou Gabriel.

Segundo uma porta-voz, o ministério defende a continuação da cooperação com o Brasil, mas apenas na área da energia renovável e do aumento da eficiência energética. Já o Ministério da Economia é favorável a uma retomada do acordo da forma como foi assinado, em 1975. A idéia de reativar o acordo partiu do Brasil, em 2006. Segundo Aydin, o Brasil apresentou a proposta para poder financiar Angra 3. Ainda em 2004, o governo de Schroeder recusou o seguro estatal para o financiamento da usina.