Título: `Está claro que os serviços de inteligência não tinham a menor idéia¿
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 30/06/2007, O Mundo, p. 39

LONDRES. Muita sorte. Com duas palavras, o americano Bob Ayers, especialista em segurança do renomado centro de estudos britânico Chatham House, descreveu o incidente de ontem em Londres. Para ele, o carro-bomba de Piccadilly é uma prova de que nenhum sistema é perfeito para deter a ameaça terrorista.

Quais são as impressões do senhor sobre o incidente de ontem?

BOB AYERS: Para começar, Londres teve muita sorte. Está claro que os serviços de inteligência não tinham a menor idéia de que algo do gênero poderia acontecer e não se pode culpar as autoridades, pois o carro-bomba (de Piccadilly) de ontem foi feito com ingredientes encontrados livremente no mercado. Sem falar que Londres tem mais de sete milhões de habitantes e seria impraticável vigiar todos os carros que circulam pela capital, não?

Nos atentados do 7 de Julho, usaram o sistema de transportes de Londres para atacar civis. Por que a mudança de tática?

AYERS: É difícil dizer, pois ainda não há pistas de quem está por trás desta tentativa de atentado. Mas apenas vejo uma mudança de alvo, com o mesmo objetivo de chocar. Não é a primeira vez que se ouve falar de planos para atacar casas noturnas e locais públicos e creio que tudo faça parte da mesma estratégia de trazer a guerra santa para Londres, supondo que terroristas islâmicos sejam os responsáveis.

E o que aponta para essa hipótese?

AYERS: Pode ser qualquer um, especialmente porque hoje em dia a internet faz com que todo mundo tenha acesso a informações sobre explosivos, e a própria al-Qaeda já utilizou diversos métodos. Mas a lógica aponta para o radicalismo islâmico, especialmente porque há anos jihadistas têm ameaçado atacar Londres e o Reino Unido. Especialmente no contexto da invasão do Iraque, como uma maneira de criar pressão sobre o governo de Gordon Brown. (F.D.)