Título: Londres à sombra do Terror
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 30/06/2007, O Mundo, p. 39

Polícia desativa dois carros-bomba na capital britânica no 2º dia do governo Brown.

Auma semana do segundo aniversário dos atentados de 7 de julho, que mataram 52 pessoas e feriram mais de 700 em explosões no metrô e num ônibus, a capital do Reino Unido viveu ontem um novo clima de ameaça terrorista, com a descoberta de dois carros-bomba. O primeiro foi achado por acaso: alertados por paramédicos que atendiam a uma emergência no Tiger Tiger, casa noturna em Piccadilly Circus, uma das regiões mais movimentadas de Londres, um esquadrão da Scotland Yard desarmou na madrugada de ontem um carro-bomba estacionado no local e que, segundo estimativas, poderia ter causado uma carnificina, já que só na boate havia 1.700 pessoas. Mais tarde, um segundo carro-bomba foi descoberto e desarmado na Avenida Park Lane.

O duplo atentado frustrado se converteu na primeira crise para Gordon Brown, apenas dois dias após assumir como primeiro-ministro. Um pouco atordoado pela notícia, Brown pediu que a população fique vigilante, ¿especialmente nos próximos dias¿. Especulava-se que a tentativa de ataque seria uma forma de mostrar que a saída de Tony Blair não faria o Reino Unido deixar de ser alvo do terror internacional.

¿ Enfrentamos uma séria e contínua ameaça. Isso nos lembra da necessidade de estar vigilantes em todos os momentos e que o público deve ficar alerta para potenciais incidentes ¿ disse Brown.

A nova secretária do Interior, Jacqui Smith, convocou uma reunião de emergência menos de 24 horas após assumir o cargo. Segundo ela, trata-se de um caso de ¿terrorismo internacional¿. Peter Clarke, comissário-assistente da Scotland Yard e comandante da unidade antiterrorista, disse que não se pode ignorar semelhanças entre o caso de ontem e um anterior, descoberto em 2004, em que terroristas ligados à al-Qaeda planejavam detonar cilindros de gás dentro de limusines em Londres.

¿ É óbvio que se o dispositivo tivesse sido detonado poderia ter causado mortes significativas ¿ disse ele.

Segundo a rede americana CBS, na véspera uma mensagem foi divulgada num site usado pela al-Qaeda dizendo que ¿Londres será bombardeada¿. O texto, assinado por Abu Osama al-Hazeen, condenava o título de sir concedido ao escritor Salman Rushdie ¿ autor de ¿Os versos satânicos¿, considerado blasfemo pelos radicais islâmicos ¿ e a participação dos britânicos na guerra do Iraque. Mas não está clara a sua ligação com o atentado frustrado.

O alerta dos paramédicos foi dado ao perceberem fumaça num Mercedes Benz verde metálico ¿ o que agora se acredita ter sido vapor liberado pelo combustível ¿ por volta de 1h (hora local). A boate, uma das maiores de Londres, foi evacuada e quando o esquadrão chegou ao local achou bujões de gás, 60 litros de gasolina e centenas de pregos, que se transformariam em projéteis numa explosão. De acordo com rumores, a bomba teria um telefone celular como detonador remoto, que teria sido acionado, mas falhado.

Segundo carro foi rebocado

Por conta do incidente, a região de Piccadilly, uma das mais procuradas por turistas por conta da profusão de cafés, teatros e bares, foi interditada, interrompendo o expediente em vários escritórios, incluindo o consulado brasileiro.

No meio da tarde, outra operação envolvendo um veículo suspeito resultou no fechamento do Hyde Park, a área verde mais famosa de Londres, bem como da Avenida Park Lane, em que estão diversos hotéis de luxo. O segundo carro-bomba, um Mercedes azul, estava estacionado irregularmente na rua Cockspur, perto de Trafalgar Square, e foi rebocado por volta das 3h30m para um estacionamento na Park Lane, onde funcionários, já sabendo do caso anterior, desconfiaram do forte cheiro de gasolina. Segundo a polícia, o dispositivo era semelhante ao primeiro e os dois casos estão ¿claramente relacionados¿.

O mais preocupante, porém, foi o fato de a ameaça ter passado nas barbas dos serviços de inteligência, que ontem já tinham começado uma caçada humana por um homem visto por testemunhas abandonando o Mercedes nas proximidades do Tiger Tiger. Uma ajuda poderá vir do fato de que a capital é repleta de câmeras de segurança públicas, especialmente em regiões como Piccadilly Circus.

O país está em nível de alerta grave (segundo mais alto) desde 14 de agosto, quando a Scotland Yard anunciou ter desbaratado um plano para a explosão simultânea de aviões sobre o Atlântico. Desde 2000, os serviços de inteligência britânicos desbarataram 15 planos para ataques terroristas.

¿ Precisamos estar alertas. A ameaça é real e duradoura. A vida continua, mas não podemos baixar a guarda ¿ afirmou Clarke.