Título: O trauma de 2005
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 02/07/2007, O Globo, p. 2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expôs seu trauma com a crise política de 2005 ao defender publicamente o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Sua manifestação não agradou à opinião pública, muito menos a correligionários e aliados. Com popularidade em alta, o presidente foi solidário com um político aliado em baixa, buscando preservar sua frágil maioria no Senado.

Um ministro explicou que o presidente se manifestou num momento em que setores do PMDB começavam a se sentir abandonados. As crescentes dificuldades que a maioria do Conselho de Ética encontra para encerrar o assunto, preservando o presidente do Senado, geram todo tipo de boatos. Era preciso que Lula se posicionasse, mesmo que isso não venha a mudar o rumo das coisas para Renan Calheiros. Sua preocupação, dizem seus líderes, é com a governabilidade e a manutenção da maioria e do comando do Senado.

Mas o trauma com a crise de 2005 também se manifesta na área administrativa. O presidente Lula já confidenciou a vários de seus interlocutores que não quer ser surpreendido por atos praticados por seus colaboradores, sejam eles do PT ou aliados. Os escândalos do mensalão e do Dossiê Vedoin custaram muito à imagem do presidente e de seu governo. Na avaliação dele, nada foi pior do que ter ficado, muitas vezes, de mãos amarradas, sem ação, justamente por não ter informações corretas sobre o que integrantes do governo ou de seu partido tinham feito.

Para evitar a repetição dessa experiência paralisante, o ministro do Gabinete Institucional, general Jorge Félix, está realizando reuniões com os ministros e principais assessores de todas as pastas. O secretário vai a esses encontros acompanhado de dirigentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A missão dele é orientar os atuais dirigentes dos ministérios a agir antes, se antecipando diante de qualquer suspeita de irregularidade, evitando que os erros se acumulem e se transformem depois em grandes escândalos. O presidente Lula escapou ileso dos escândalos anteriores e está tomando todas as medidas para evitar novos fatos desagradáveis. Pois, como diz um de seus assessores, não há ciência exata que determine como, quando, onde e por que um líder político perde a confiança da maioria dos eleitores.