Título: Deputados botam a culpa nos inimigos
Autor: Brígido, Carolina e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 02/07/2007, O País, p. 3

Parlamentares afirmam que investigações e processos fazem parte da política.

BRASÍLIA. Deputados que estrearam este ano já com a tarefa de se explicar na Justiça consideram natural o acúmulo de inquéritos e processos ao longo da vida pública. O deputado Abelardo Camarinha (PSB-SP), que responde a quatro inquéritos e um processo no Supremo Tribunal Federal (STF), fala com certo orgulho das ações. Para ele, elas representam uma comprovação de que realizou feitos importantes. O parlamentar está no primeiro mandato de deputado federal, mas já foi vereador, três vezes prefeito de Marília (SP) e duas vezes deputado estadual.

- Com a legislação atual, para tudo se é obrigado a instaurar inquérito. Faz parte da política. Os adversários usam esse instrumento. Quem passou pela vida pública, quem passou pelo Executivo tem algum tipo de inquérito. Se não tiver, é porque não fez nada pela cidade, foi uma maria-mole - afirma Camarinha.

O deputado paulista considera irrelevante a quantidade de ações ajuizadas contra ele em relação ao tempo que contabiliza de vida pública, e destaca que não há denúncia nem processo contra ele. Camarinha ressalta ter sido prefeito por 14 anos.

- Em 32 anos de vida pública, isso (inquéritos e ações) é insignificante. Inquérito é averiguação, é de cunho político, feito por adversários. O Fernando Henrique Cardoso tem 196 inquéritos - compara.

O deputado Cássio Taniguchi (DEM- PR), ex-prefeito de Curitiba, coleciona no STF quatro inquéritos e duas ações penais. Ele também considera normal um homem público ter tantas ações na Justiça. Taniguchi nega estar no time dos parlamentares que buscam a eleição para conquistar o foro privilegiado.

- Infelizmente essas coisas acontecem quando a gente está na função. Os adversários estão aí para denegrir a nossa reputação. Preferia até que esses casos tivessem sido julgados lá no Paraná para não atravancar a pauta do STF. Existem deputados que gostam quando a ação sobe para o STF para postergar a decisão. Não é o meu caso - afirma o parlamentar.

Advogado acha normal que ex-prefeito responda a processos

O advogado de Taniguchi, Renato Andrade, faz coro com o cliente:

- É absolutamente normal que um político que administre uma cidade do tamanho de Curitiba responda a processos, até mesmo para esclarecer a forma como administrou.

O deputado Paulo Maluf (PP-SP) também é figura conhecida dos ministros do STF, onde acumula seis inquéritos. Boa parte dos casos refere-se à época em que foi prefeito de São Paulo. Os inquéritos foram transferidos para a mais alta corte do Judiciário após a eleição de Maluf para a Câmara, ano passado. Ao se manifestar sobre as investigações, por meio de seu assessor de imprensa, o deputado atribuiu aos excessos de seus opositores o número de inquéritos contra ele. - Esses processos usam de argumentos falsos, de acusações inconsistentes e são fruto de perseguição política feita contra Paulo Maluf por um promotor público de São Paulo, cujo nome não menciono para não lhe dar publicidade gratuita. Maluf tem 40 anos de vida pública e nenhuma condenação por atos que tenha praticado no exercício de cargos - disse o assessor Adilson Laranjeira, que se referia ao promotor de Justiça Silvio Marques.

Os deputados Neudo Campos e Clodovil Hernandes, que também integram a lista de novos parlamentares com mais ações no STF, não foram localizados para comentar suas situações judiciais. (Carolina Brígido e Isabel Braga)