Título: Mulher de Kirchner vai disputar Presidência
Autor: Camarotti, Mariana
Fonte: O Globo, 02/07/2007, O Mundo, p. 18

Governo anuncia decisão. Candidatura de Cristina Fernández será lançada dia 19 de julho, em Buenos Aires.

BUENOS AIRES. Após mais de um ano de especulações e uma semana depois de Mauricio Macri (PRO), adversário do presidente Néstor Kirchner, vencer as eleições para prefeito de Buenos Aires, a primeira-dama e senadora Cristina Fernández de Kirchner confirmou sua candidatura a presidente nas eleições de 28 outubro pelo Partido Justicialista. A notícia foi publicada ontem pelo jornal "Clarín", que apóia o presidente, e confirmada à noite pelo chefe de Gabinete do presidente, Alberto Fernández. Com isso, fica descartada a tentativa de reeleição de Kirchner e desfaz-se a dúvida sobre qual dos dois seria o candidato à Casa Rosada.

A fórmula escolhida pelo casal presidencial permitirá que Kirchner volte a disputar a presidência em 2011, ano em que Macri (PRO), caso consiga consolidar sua imagem nacionalmente, teria grandes chances de estar na lista de concorrentes à cadeira presidencial.

Primeira-dama tem índice de aprovação em crescimento

Mas a decisão não foi baseada apenas nessas hipóteses. Pesquisas de intenção de voto encomendadas pelo governo mostram que Kirchner seria eleito em primeiro turno, com 52,5% a 55% dos votos, enquanto sua mulher teria 46% a 48,2%. Contudo, o casal presidencial e seu bunker político decidiram apostar em quem apresenta uma imagem em crescimento.

O presidente tem um índice de aprovação em queda, atualmente em 52%, o nível mais baixo de seu governo, contra os 57% estáveis que vinha apresentando. Já Cristina tem 61%. Além disso, as recentes derrotas eleitorais dos candidatos kirchneristas para os governos de províncias e da capital são vistas pelos eleitores como resultado de falhas do presidente e não da primeira-dama.

A partir de agora, a senadora terá que atacar em duas frentes: reduzir seu índice de reprovação entre os eleitores (33%) e conquistar a população da cidade de Buenos Aires, que em sua maioria não apóia o casal presidencial e elegeu Macri em 24 de junho.

Mesmo assim, a situação da primeira-dama é confortável por enquanto, sem um candidato forte na oposição. As pesquisas mostram que ela venceria por mais de 30 pontos percentuais de diferença a deputada federal Elisa Carrió e o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna (UCR). O ex-presidente e senador Carlos Menem, também do Partido Justicialista, anunciou semana passada que disputará as eleições presidenciais de 2011. Ricardo López Murphy, candidato por Recrear, espera o apoio de Macri.

Cristina fará o lançamento oficial da sua candidatura no próximo dia 19 em um ato público na cidade de La Plata, capital da província de Buenos Aires, pela qual é senadora. Para formar a chapa, tudo indica que seria escolhido um dos dissidentes da União Cívica Radical (UCR) ligados ao kirchnerismo.

O lançamento do seu nome à Casa Rosada vem sendo armado nos últimos dois anos, com viagens ao exterior nas quais ocupou papel de protagonista ao lado de mandatários e empresários, participação em atos públicos nacionais com destaque e grande exposição na mídia argentina.

Durante as viagens internacionais, ela reuniu-se com o então presidente da França Jacques Chirac; com o da Venezuela, Hugo Chávez; a do Chile, Michelle Bachelet; e o do Equador, Rafael Correa. Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a Argentina com dona Marisa, em abril, Cristina foi a única das duas primeiras-damas a participar da reunião dos chefes de Estado.