Título: Bingos: inquérito está parado no Rio
Autor: Gripp, Alan e Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 01/07/2007, O País, p. 4

Flagrado cobrando propina, Waldomiro Diniz hoje trabalha em frigorífico.

BRASÍLIA. Quase três anos e meio após estourar o escândalo dos bingos, protagonizado por Waldomiro Diniz, o ex-assessor da Casa Civil sequer responde a processo criminal por cobrar propina e dinheiro para campanhas eleitorais do empresário de jogos Carlinhos Cachoeira. Depois de idas e vindas por tribunais de diferentes instâncias, e de falhas de investigação - como o indiciamento de suspeitos que nem foram ouvidos -, o inquérito está parado na Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), no Rio.

Os novos chefes da delegacia especializada, que tomaram posse há dois meses, confirmam os problemas e dizem que estão reorganizando o inquérito para fazê-lo voltar a andar.

- Tinha muita coisa desorganizada, como documentos duplicados, por exemplo. Isso vinha dificultando o entendimento. Mas estamos reorganizando a investigação e montando as ligações entre os suspeitos. Isso vai permitir a conclusão - diz a delegada substituta da Draco, Bárbara Lombabueno.

A exposição dada a Waldomiro pelo vídeo em que é flagrado cobrando propina em troca de vantagens em licitações de jogos nunca permitiu que ele recuperasse a influência que tinha no PT. Quando foi denunciado, era subordinado diretamente ao então ministro José Dirceu. Waldomiro ainda vive em Brasília, mas passa a semana em Goiânia, onde trabalha num frigorífico. Ele recusou os pedidos de entrevista, mas seu advogado, Luis Guilherme Vieira, disse que o tempo está mostrando que Waldomiro foi vítima de uma armação:

- Não há nada concreto, apenas uma acusação pública. Waldomiro foi vítima de uma engenharia criminosa orquestrada pelo senhor Cachoeira.

Localizado pelo GLOBO, Cachoeira rebateu as acusações dizendo que gravou a conversa com Waldomiro para denunciar as tentativas de extorsão que vinha sofrendo:

- Gente como Waldomiro se sente no direito de inverter valores, querendo se transformar em vítima.

Cachoeira disse ter se afastado dos negócios de jogos eletrônicos. Mas confirmou que será o novo patrocinador do Gama, clube que disputa a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Ele disse que vai injetar R$100 mil por mês no clube, usando recursos de seu laboratório de medicamentos genéricos, que fica em Anápolis (GO).

- Vou levar o Gama para a primeira divisão - promete ele. (J.C. e A.G.)