Título: Um ano depois, STF nada fez sobre os 40 denunciados pelo mensalão
Autor: Gripp, Alan e Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 01/07/2007, O País, p. 4

Denúncia contra "sofisticada organização criminosa" sequer foi aceita.

BRASÍLIA. A investigação que estremeceu o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha a passos lentos no Supremo Tribunal Federal (STF). Mais de um ano depois de o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, denunciar 40 suspeitos de integrar o que classificou como "sofisticada organização criminosa", os ministros do Supremo ainda não decidiram se aceitam ou não a denúncia. Em outras palavras, ainda não há processo criminal aberto, enquanto o tempo corre na direção da prescrição dos crimes.

A única ação penal já em andamento relacionada ao caso trata de um capítulo específico do escândalo: os empréstimos supostamente irregulares contraídos pelo PT no banco BMG. O processo foi aberto pela Justiça Federal em Minas Gerais no dia 18 de dezembro do ano passado, mas, no dia seguinte, um dos réus, o ex-presidente do PT José Genoino (SP), foi diplomado deputado federal e ganhou foro privilegiado. Assim, o processo subiu automaticamente para o Supremo. Também são réus nessa ação o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o empresário Marcos Valério.

Genoino se diz "tranqüilo" sobre empréstimos do PT

Genoino ainda caminha com discrição pelos corredores da Câmara. Em uma das raras vezes em que aceitou falar do assunto após seu retorno, disse semana passada ao GLOBO que não vê diferença entre responder ao processo na Justiça Federal em Minas Gerais ou no STF e que, quaisquer que sejam as circunstâncias, provará sua inocência:

- Estou muito tranqüilo. Vou provar que esses empréstimos foram absolutamente legais e constam das prestações de contas do PT em 2004, 2005 e 2006 - disse Genoino, sem se estender.

Na mais alta corte do país, tramita ainda o inquérito que investiga as relações de Marcos Valério com o senador tucano Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Azeredo é acusado de ter financiado sua campanha ao governo de Minas, em 1998, com recursos do chamado valerioduto. A investigação, como as demais, corre em segredo de Justiça.

Relator dos inquéritos teme a prescrição dos crimes

Nos últimos meses, o ministro Joaquim Barbosa, relator dos inquéritos do mensalão, tem manifestado preocupação com a demora no andamento dos casos e com a possibilidade de prescrição dos crimes. Se o processo principal do mensalão - o dos 40 denunciados - for aberto, Barbosa terá pela frente um caso complexo, com dezenas de testemunhas para ouvir e inúmeras diligências a cumprir. Ao mesmo tempo, o ministro tem em seu gabinete outros dez mil processos para cuidar.