Título: Máfia dos vampiros: processo ainda está no início
Autor: Gripp, Alan e Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 01/07/2007, O País, p. 9

Procurador prevê que investigações vão se arrastar, no mínimo, por mais dois anos, e só na primeira instância

Alan Gripp e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Em abril de 2004, a Polícia Federal prendeu 17 empresários, lobistas e servidores públicos acusados de fraudar licitações de hemoderivados. Foi o primeiro dos grandes escândalos relacionados a altos escalões do governo Lula. Os crimes chocaram a opinião pública. Grandes empresas e lobistas do antigo esquema PC juntaram-se a funcionários nomeados pelo governo do PT para atacar verbas destinadas à compra de remédios para hemofílicos. Mas, ainda hoje, três anos depois, o processo contra a suposta quadrilha está na fase inicial.

Para o procurador Gustavo Veloso, as acusações vão se arrastar por, no mínimo, mais dois anos na primeira instância da Justiça Federal, antes de subir para os tribunais superiores. A partir daí, ele nem arrisca um palpite sobre o fim desse caso, que, pelos cálculos oficiais, significou um rombo de R$2 bilhões nos cofres públicos da década de 90 até 2003.

Procurador responsabiliza PF por atraso no processo

O caso seguia seu trâmite, aparentemente normal, até o início do ano passado, quando surgiram informações que, para o Ministério Público e a PF, comprometiam o ex-ministro da Saúde Humberto Costa e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares com as fraudes na compra de hemoderivados. Em setembro, Gustavo Veloso decidiu fazer um aditamento à denúncia original para incluir os nomes de Costa e Delúbio, entre outros que não constavam da acusação inicial. Com isso, o processo voltou à estaca zero.

Veloso responsabiliza a Polícia Federal pelo atraso que, no decorrer dos anos, pode inviabilizar a punição da chamada máfia dos vampiros. Segundo o procurador, o primeiro relatório do serviço de inteligência da PF sobre a máfia não fazia referência alguma às conversas em que integrantes da quadrilha mencionavam Humberto Costa e Delúbio Soares, entre outros importantes acusados.

Veloso argumenta que, sem essas informações, não tinha como denunciar Costa e Delúbio. Ele afirma que só no início do ano passado recebeu o relatório completo e, a partir daí, teve que modificar substancialmente a denúncia original:

- Não sei se houve falta administrativa ou um ilícito. Isso terá que ser apurado pelo controle externo da polícia.

A PF informou, por meio da assessoria de imprensa, que teve dificuldades em degravar todas as conversas captadas ao longo da operação. Alguns dos diálogos tiveram, inclusive, que ser descartados.