Título: Está na hora de Renan pensar na instituição
Autor: Vasconcelos, Adriana e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 01/07/2007, O País, p. 13
Senador "desconvidado" para relator no Conselho diz que permanência de presidente do Senado no cargo interfere na apuração.
Com o nome vetado para a relatoria da representação contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) no Conselho de Ética, por ter demonstrado disposição de manter a Polícia Federal na investigação, o líder do PSB, Renato Casagrande (ES), não tem mais dúvidas sobre a interferência do presidente do Senado no processo. Na sua opinião, está na hora de Renan pensar na instituição, que está perdendo a capacidade de reagir à crise que abateu o presidente do Senado. Para o senador, que exerce o primeiro mandato na Casa, os últimos dias mostraram que a presença de Renan no cargo afeta o funcionamento do Conselho de Ética. "Continuo achando que é uma avaliação dele, mas já está na hora de ele começar a pensar um pouco na instituição", disse, em entrevista na sexta-feira.
Adriana Vasconcelos e Maria Lima
Está havendo interferência do presidente Renan no Conselho de Ética?
RENATO CASAGRANDE: Está havendo uma interferência externa muito forte. Essas pressões vêm de lideranças importantes do Congresso e têm causado a paralisia do Conselho. E quando uma instituição não consegue responder a uma crise, ela perde a sua razão da existência. A sociedade observa hoje o Senado com total descrédito. O presidente do Senado tem de compreender que só tem uma saída, o processo de investigação. A paralisia do Conselho de Ética vai estabelecer uma condenação antecipada do presidente do Senado.
As renúncias em série de relatores e presidente fazem parte de uma estratégia para paralisar os trabalhos?
CASAGRANDE: Está clara a tática de desmoralizar o Conselho, que não reagiu a isso com a força necessária. Espero que reaja. Isso é inaceitável.
Se Renan não fosse presidente da Casa, as influências sobre o Conselho seriam menores?
CASAGRANDE: A posição do senador Renan na presidência agrava e interfere no comportamento dos membros do Conselho. Mesmo que não peça, as pessoas querem prestar serviço ao presidente.
Como derrubar a maioria governista que tenta prestar serviços ao presidente?
CASAGRANDE: O Conselho não pode ser dividido entre governistas e oposição. Sou da base e defendo a investigação. O governo não tem nos pedido nada. Temos de nos orientar por nossas consciências e ter bom senso.
Mas o presidente Lula defendeu Renan, cobrou solidariedade da base e reclamou até da indicação do senador Suplicy para o Conselho.
CASAGRANDE: Se houve a queixa sobre a indicação do Suplicy, não sei. Agora, o presidente Lula, no início desse processo, e dos outros que atingiram o governo, teve uma posição que nos orienta. A maioria do Conselho até agora não permitiu um rito sumário para arquivar o processo. Duvido que o presidente não queira uma dinâmica que garanta a investigação.
Foi pedido ao senhor que rejeitasse o convite para relator?
CASAGRANDE: Houve uma dubiedade muito grande. O senador Leomar Quintanilha demonstrou estar muito suscetível a pressões e não conseguiu confirmar minha relatoria. Eu já havia conversado com consultores da Casa, pedindo um plano de trabalho e uma minuta de ofício para enviar à Polícia Federal, pedindo que concluísse a perícia.
Por isso foi vetado?
CASAGRANDE: Sabiam que eu queria a investigação desde o início.
Se Renan tivesse se afastado da presidência, seria diferente?
CASAGRANDE: Os últimos dias demonstraram que sua presença no cargo acaba interferindo no Conselho. Continuo achando que é uma decisão pessoal, mas já está na hora de ele começar a pensar um pouco na instituição.
O senador Renan ainda tem muita coisa a explicar?
CASAGRANDE: A perícia diz que faltam documentos e que não foi possível confirmar se as operações de fato ocorreram. É fundamental concluir a perícia.
As denúncias contra o senador Quintanilha aumentam as cobranças?
CASAGRANDE: Minha expectativa é que ele possa se explicar. Se não fizer isso, sua situação fica instável.
E se Renan não der explicações cabais?
CASAGRANDE: Ele tem uma história política, foi ministro, líder. Está no segundo mandato de presidente do Senado. Para ele, o que deveria importar é que esse processo fosse esclarecido. Se houver manobra, ele pode até não ser julgado no Senado, mas sua história e sua vida pública ficam maculadas para sempre.