Título: Na Amazônia, sai a floresta, entra a soja
Autor: Awi, Fellipe
Fonte: O Globo, 01/07/2007, O País, p. 16

No oeste do Pará, expansão agrícola faz surgir comunidades fantasmas e provoca grilagem de terras.

SANTARÉM e BELTERRA (PA). Para os moradores de Belterra, o cemitério de Tracuá representa, acima de tudo, a morte da floresta. Abandonado, cercado de plantação de soja por todos os lados, é um retrato da expansão da fronteira agrícola de grãos na Amazônia, principal fator de desmatamento e do surgimento de comunidades fantasmas no oeste do Pará, ao longo da BR-163 (Cuiabá-Santarém).

A zona rural de Belterra e Santarém apresenta um cenário praticamente único: com a floresta ao fundo, enormes plantações de soja e arroz a perder de vista. Entre elas, casas abandonadas e árvores frutíferas de quintal, como mangueiras e jambeiros. Seus antigos habitantes são pequenos agricultores que hoje estão, em geral, nas periferias urbanas de Santarém ou se mudam para áreas mais distantes da floresta, provocando mais desmatamento.

O panorama é usado pelo Ministério Público Federal, por grupos ecológicos e sociais, como o Greenpeace e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), para apontar os sojeiros como maiores vilões desta parte da floresta. Estes, por sua vez, alegam que a soja se ocupou principalmente de áreas já desmatadas e tem levado benefícios econômicos para a região.

¿ A chegada da soja trouxe grilagem e conflito de terra, que não existia em Santarém ¿ diz o procurador-chefe do MPF em Belém, Felício Pontes.