Título: Tarifas bancárias mais altas no Brasil e México
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 01/07/2007, Economia, p. 30

Levantamento na América Latina mostra que preços de serviços diferem em até 219% entre os dois países.

RIO e BRASÍLIA. O Brasil tem uma das taxas de juros reais mais altas do mundo, mas perde para o México quando o assunto é o valor das tarifas bancárias na América Latina. A maior economia da região ostenta diferenças de até 219% em relação ao Brasil. A concentração de mercado, a burocracia e a recente privatização do sistema financeiro mexicano ajudam a explicar os custos elevados. Na opinião de economistas, o pior: o Brasil deve se aproximar cada vez mais do maior vizinho latino. Conforme a queda da taxa básica de juros (a Selic, hoje em 12% ao ano) ganha força, reduzindo, portanto, a rentabilidade dos bancos, as instituições elevam a cobrança de seus serviços.

Um exemplo: no México, o preço médio de um extrato semanal é hoje de US$1,72. No Brasil, sai por US$0,74. Já no Chile, país que já tem grau de investimento, é cobrado US$0,14. As diferenças fazem parte de um levantamento da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap). A pesquisa foi feita em junho usando os preços médios das tarifas dos bancos centrais de sete países.

¿ É muito difícil comparar as tarifas cobradas em países tão diferentes. Cada nação tem um sistema bancário específico. Venezuela e Bolívia são dois exemplos difíceis de se obter informações ¿ diz Marcos Crivelaro, professor da Fiap e responsável pelo estudo.

Chile é o país na região onde se cobra menos

As taxas no México são, de longe, as mais altas entre as nações pesquisadas. Em segundo lugar, aparece o Brasil. Em último, o Chile. Para Crivelaro, os bancos mexicanos passaram a cobrar mais por seus serviços com a queda dos juros ¿ fenômeno que já ocorre no Brasil, lembra. Para o economista Roberto Luis Troster, deve-se observar a concentração no sistema bancário lá: Banamex, do Citi, e Bancomer, do espanhol BBVA, detêm 70% do setor.

¿ No México, o processo de privatização do sistema bancário, que aconteceu na década de 80, resultou em instituições pouco eficientes e burocráticas. Na outra ponta, vemos o Chile, que cresce há décadas e, assim, consegue achatar suas margens, devido ao forte volume de crédito ofertado ¿ diz Troster.

Para especialistas, o Brasil, com a queda da Selic, estaria caminhando para uma situação igual à do México. Na época da hiperinflação, os bancos não cobravam por seus serviços, pois ganhavam alto com os juros. Hoje, o preço de um talão de cheque com 20 folhas varia 219%: sai a US$10,80, no México, e US$3,38, no Brasil. Para Miguel Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), cerca de 90% dos serviços tiveram valorização bem acima da inflação de 2001 e 2006.

¿ As tarifas brasileiras devem aumentar ainda mais com a queda na taxa básica de juros ¿ diz Miguel. ¿ Os preços de alguns serviços subiram até 2.600%, contra um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 50,60% em sete anos.

E mais: a concentração também aumenta por aqui. Estudo recente da Austin Rating revelou que os três maiores bancos no país (Banco do Brasil, Itaú e Bradesco) tinham 37% dos depósitos em 1994. No ano passado, concentravam 49%.

A procuradora da República Valquiria Quixadá instaurou inquérito para investigar abusos nas tarifas. Ela quer restringir a liberdade na criação de tarifas e taxas. E promete auditar o sistema de fiscalização do Banco Central, que considera omisso em relação a essa cobrança. O BC já foi notificado e terá um mês para se pronunciar.

¿ Existe uma norma que afirma que um banco, ao criar uma nova taxa, deve informar aos clientes. Para nós um banco não pode ter essa liberdade.

A técnica em enfermagem Cláudia Meireles paga quase R$26 por mês por uma cesta de produtos.

¿ As tarifas aumentam muito, e a qualidade no atendimento não melhora.

O aposentado Flávio Murillo e o funcionário público Jorge Souza reclamam da conta de manutenção, de R$31 por mês.

¿ Para que serve uma inflação baixa se os custos para manter uma conta aumentam a cada dia no país ¿ diz Jorge.

Nicola Tingas, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), diz que o valor das tarifas bancárias na América Latina está relacionado, entre outros fatores, ao custo de vida. Além disso, também conta o nível de concorrência bancária. Ele cita o caso do Chile, que tem um sistema financeiro sem ineficiências.

¿ Quanto mais eficiente o país, maior a capacidade de oferecer um custo menor. O Chile já deve ter passado pela situação mexicana, mas hoje colhe os resultados de um grande volume de crédito. A dificuldade é saber em qual fase está o Brasil. A tendência é que, aqui, com a ampliação do financiamento e a melhoria no nível de renda, o país alcance o Chile ¿ aponta Tingas.

COLABOROU, Henrique Gomes Batista