Título: `Reacionários' na Igreja
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 01/07/2007, O Mundo, p. 36

CIA não acreditava em padres comunistas.

WASHINGTON. Os documentos liberados pela CIA indicam que nos anos 60 os EUA estavam menos preocupados com padres e bispos brasileiros tidos como ¿engajados¿ do que o próprio regime militar, que os classificava como subversivos e comunistas. Segundo o governo americano, os radicais eram ¿uma pequena minoria¿ que não podia causar problemas.

¿Apesar das repetidas acusações dos reacionários e de outros, de que tal penetração (comunista) é ampla, há forte comprovação de que muito poucos sacerdotes engajados foram subvertidos; talvez por causa de suas profundas convicções religiosas e sua ampla desconfiança em relação a partidos políticos e ideologias¿, diz um trecho de um informe preparado pela CIA em setembro de 1969, sob o título ¿A Igreja engajada e as mudanças na América Latina¿.

O documento mostra, ainda, que o clero progressista no Brasil ¿ liderado por dom Helder Câmara ¿ era freqüentemente incriminado pela minoria ¿reacionária¿ da Igreja (conforme classificação da própria CIA): ¿Os reacionários constituem apenas uma minoria relativamente pequena, mas ela é barulhenta e explora com firmeza a reverência de muitos dos católicos pela tradição¿.

Mais adiante a análise da CIA registra: ¿Eles (os reacionários) freqüentemente denunciam todos os que propõem reformas como radicais, se não comunistas, e nesta última categoria incluem os sacerdotes católicos e bispos, além de leigos.¿ A explicação, segundo os analistas de inteligência dos EUA, era simples: ¿Eles olham com saudade para os dias da aliança tripartite entre a Igreja, os militares e os grandes latifundiários, como uma Idade Dourada. Eles se apressam em saudar os líderes de golpes militares conservadores, como no Brasil (1964) e na Argentina (1966).¿

A CIA menciona dois bispos brasileiros como ¿alguns dos mais eminentes reacionários¿ da América Latina, e participantes ¿do grupo Tradição, Família e Propriedade (TFP)¿: dom Antonio de Castro Mayer, de Campos; e dom Geraldo de Proença Sigaud, de Diamantina.(J.M.P.)