Título: Mesa resistiu às pressões de Renan e decidiu,
Autor: Lima, Maria e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 04/07/2007, O País, p. 4

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Proposta de arquivamento do processo foi rechaçada.

Aliados do parlamentar tentaram participar da reunião, mas senadores impediram.

BRASÍLIA. O instinto de sobrevivência falou mais alto durante a reunião em que sete senadores da Mesa Diretora decidiram derrubar a manobra de Renan Calheiros (PMDB-AL) para tentar enterrar seu processo sem votação no Conselho de Ética. Mas não foi fácil resistir às pressões ao longo de mais de três horas de discussão. Trancado em seu gabinete pessoal, Renan despachou para o gabinete da presidência, onde ocorria a reunião, dois de seus mais fiéis defensores: o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e o líder do PMDB, Waldir Raupp (RO).

Aliados de Renan foram convidados a sair da reunião

Os dois acompanharam toda a negociação de uma sala ao lado. Em dois momentos, entraram para tentar participar da discussão, e foram convidados pelo vice-presidente, Tião Viana (PT-AC), a se retirar. No momento decisivo, quando foi aprovada a devolução do processo ao Conselho, com votação aberta do plenário para referendar a decisão, coube ao senador José Sarney (PMDB-AP) ligar para Tião e tentar convencê-lo a aprovar a votação secreta no plenário.

Segundo relato dos presentes, Tião ficou irritado com a ligação e decidiu sair da neutralidade e se alinhar com os que defenderam o voto aberto.

- Não pode! Estou presidindo a reunião. Não posso falar com ninguém de fora, isso está errado! - disse Tião, repreendendo à secretária que lhe entregou o telefone e lhe avisou que era Sarney, com quem acabou falando.

Quando os sete senadores votaram por unanimidade a devolução do processo ao Conselho, mas dependendo de aprovação do plenário em voto aberto, a tropa de choque de Renan reagiu. Alegou que ele estaria, assim, sendo julgado. Coube à secretária-geral da Mesa, Cláudia Lyra, argumentar que a votação aberta não era possível, porque se tratava de prejulgamento para cassação de mandato.

- Se for votação fechada, nós, da Mesa, vamos ser acusados de enterrar a investigação. Estaremos mortos - reagiu Papaléo Paes (PSDB-AP).

Houve discordância, e, temendo que o caso fosse parar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e ali ficasse parado por mais 15 dias, voltaram atrás e decidiram remeter o caso diretamente ao Conselho.

Tião Viana propôs arquivar representação do PSOL

Tião Viana abriu a reunião sugerindo que a representação do PSOL fosse arquivada, por estar contaminada por vícios, e que, se fosse o caso, uma outra ação fosse reapresentada com o mesmo teor. A idéia foi rechaçada por todos.

- De jeito nenhum! O parecer da consultoria diz que há erros que podem ser corrigidos, e não que a representação deve ser arquivada! O vício do pai não pode prejudicar o filho. Não podemos pagar esse desgaste desse arquivamento - discordou César Borges (DEM-BA).

No meio da discussão, Jucá e Raupp, que estavam na sala ao lado, entraram na reunião, causando constrangimento.

- O que foi? Estamos ainda em reunião, nos dê licença! - pediu Tião Viana, segundo os presentes, expulsando os líderes.

Mesmo com a resistência de Tião, Raupp e Jucá conseguiram argumentar que submeter a admissibilidade do processo contra Renan ao plenário poderia representar um prejulgamento, o que acabou convencendo a maioria.