Título: Não arredarei o pé da presidência do Senado
Autor: Vasconcelos, Adriana e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 04/07/2007, O País, p. 5

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Peemedebista resiste e diz que não há crise na instituição, descartando de novo renúncia.

Na cadeira de presidente, Renan enfrenta o constrangimento de ouvir apelos de vários colegas para sair.

BRASÍLIA.O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu manter a estratégia de permanecer no cargo, mesmo depois das pressões para o seu afastamento, feitas na sua frente, no plenário, num dos momentos de maior constrangimento da história da Casa.

- Não arredarei o pé da presidência do Senado. Fui eleito para isso. Prestei juramento para isso. Estou absolutamente convicto da minha inocência. Eu me sinto muito à vontade. Fui eleito pela maioria da Casa - disse Renan, após a decisão da Mesa, quando se dirigia ao plenário.

Renan foi preparado para enfrentar as cobranças dos colegas no plenário, com anotações feitas por assessores e auxiliares sobre as respostas que deveria dar. No comando da sessão, ele ouviu por exatamente duas horas apelos para que deixasse o cargo. Sem deixar de encarar de frente os oradores, interrompeu em alguns momentos o debate deflagrado pelo líder tucano, Arthur Virgílio (AM), e o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (CE), para reiterar sua disposição não só de permanecer no cargo.

- As crises políticas não se compadecem de fraquezas nem de gestos menos nobres. Sucumbir à sedução de um pseudoclamor é atitude incompatível com a coragem e a honradez que devem pautar a conduta dos homens públicos. Com serenidade e reflexão, entendo que devo permanecer na presidência do Senado Federal, mesmo que, com isso, contrarie apetites políticos de ocasião. O Senado Federal é bem maior que a crise que querem agigantar - disse Renan, reproduzindo texto de um papel que levava à mão.

Pragmático, Renan avaliou que, se for para a planície, ficará fragilizado. Disse também, em conversas reservadas, que já perdeu a guerra na opinião pública e que agora só lhe resta salvar o mandato.

Mas a pressão contra Renan é crescente. A exemplo do que já havia feito o DEM, o PDT, além de alguns senadores como Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), a bancada do PSDB cobrou da tribuna a licença de Renan da presidência, pelo menos enquanto a representação do PSOL contra ele estiver em tramitação.

Os tucanos foram motivados pela última manobra da tropa de choque de Renan de remeter o processo de volta para a mesa diretora da Casa, com o claro objetivo de arquivar ou pelo menos retardar a investigação.

- Não é com agrado nem com prazer que o PSDB lhe sugere esse caminho para que possamos realizar o julgamento que queremos - disse Virgílio.

A despeito da negativa de Renan ao apelo de Virgílio, o presidente do PSDB reiterou a recomendação do partido :

- Todas as trapalhadas que assistimos, as renúncias sucessivas e erros de condução na investigação, tiraram a credibilidade dessa Casa e até mesmo de cada um de nós, como se não quiséssemos fazer um julgamento correto. Não temos outra alternativa a não ser pedir seu afastamento.

A partir daí, vários senadores se revezaram em apartes aumentando o coro em favor do afastamento de Renan da presidência do Senado. Apenas dois correligionários de Renan ousaram defendê-lo, entre eles o líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

- Ninguém que não tem processo transitado em julgado pode ser considerado culpado - disse Raupp.

Renan, impassível, manteve o discurso de que não há crise nem paralisia das atividades do Senado:

- Não há crise na instituição. Estamos deliberando mais que a média.