Título: Quintanilha: processo segue de onde parou
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 04/07/2007, O País, p. 8

Derrotado, aliado de Renan ameaça entrar na Justiça, caso o Conselho não reinicie investigação.

BRASÍLIA. Na primeira sessão do Conselho de Ética depois da decisão da Mesa de devolver o processo, ontem à noite, um dos integrantes da tropa de choque do presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), senador Almeida Lima (PMDB-SE), anunciou que pretende recorrer ao Judiciário contra a decisão de considerar válido tudo o que foi apurado até agora no caso Renan. Assim que o presidente Leomar Quintanilha (PMDB-TO) começou a sessão, o senador Renato Casagrande (PSB-ES) levantou uma questão de ordem para saber se o processo seria zerado ou não. Quintanilha decidiu que a perícia da Polícia Federal e todos os atos seriam válidos e o processo continua de onde parou.

- Vou questionar judicialmente se Vossa Excelência não declarar que está tudo nulo, inclusive a notificação feita ao representado - avisou, em seguida, Almeida Lima.

"Não tem sentido fingir que o que foi apurado não existe"

No meio do debate jurídico, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e outros integrantes do Conselho alegaram que a perícia da Polícia Federal foi autorizada pelo plenário do Conselho por aclamação.

- Presidente, o senhor deve considerar os atos perfeitos e robustos. Nomeie um relator para que prossigamos e concluamos esse tumultuado processo - apelou Demóstenes.

- Que as informações colhidas sejam consideradas. Não tem sentido fingir que o que foi apurado pela PF não existe. Não escamoteiem coisa alguma, não tentem ser mais espertos que os outros - disse Sérgio Guerra (PSDB-PE), alfinetando Almeida Lima: - O senador Almeida Lima é muito prolixo em sua argumentação jurídica. Fala demais com aquela voz que impressiona, mas não convence.

Ao responder à questão de ordem, Quintanilha desculpou-se com Casagrande, a quem convidou e desconvidou para ocupar a relatoria do processo contra Renan.

- Reconheço que causei constrangimento ao senador Casagrande, que convidei aqui publicamente. Mas é que, no dia seguinte, fui assaltado por dúvidas de que havia vícios no processo - tentou se desculpar Quintanilha, que voltou a assediar Casagrande para a relatoria, com outros dois senadores.

Os líderes ficaram de resolver a indicação dos relatores até hoje. Do PMDB, o mais cotado é Almeida Lima. Da oposição, deve ser Demóstenes ou Marisa Serrano (PSDB-MS).

Os apelos de senadores e do corregedor Romeu Tuma (DEM-SP) para que Quintanilha deixasse o cargo foram ignorados. Depois de quase uma semana sumido, Quintanilha, investigado por corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF), reapareceu ontem para presidir a sessão do Conselho cercado por seis seguranças. Limitou-se a ler uma defesa em que refuta as denúncias de participação num esquema de corrupção e desvio de recursos em Tocantins. De manhã, Tuma dissera que, se ele não se afastasse, qualquer processo do Conselho ficaria sob suspeição.

- O senador Quintanilha deveria fazer um ato de contrição em frente ao espelho. Como está sob investigação, se continuar na presidência, qualquer processo por ele presidido se tornaria suspeito. Tem lá no Conselho 15 senadores que podem questioná-lo - disse Tuma, cobrando que o Ministério Público Federal e o STF enviem ao Senado tudo o que tiver sido apurado contra o presidente do Conselho.

Quintanilha leu sua defesa e não foi contestado

À tarde, o senador Jefferson Péres (PDT-AM) revelou que, durante a sessão, pediria seu afastamento. Mas, depois que Quintanilha leu sua defesa, ninguém o contestou.

"É com muita serenidade, senhoras e senhores senadores, que venho aqui refutar as acusações que a mim vêm sendo endereçadas. Longe de se assentarem em fatos, elas se baseiam no rumor, no boato, no burburinho, na má-fé. Refuto com veemência e indignação todas elas. Refuto porque são improcedentes. Refuto porque são falsas", afirmou Quintanilha (lendo um texto), tropeçando nas palavras e gaguejando em alguns momentos.