Título: Tarso defende uso de grampo em investigações
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 04/07/2007, O País, p. 10

Ministro admite abuso, mas diz que PF fará cada vez mais escutas.

BRASÍLIA. O ministro da Justiça, Tarso Genro, defendeu ontem as escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, alvo de críticas recentes de parlamentares e até do presidente Lula. Tarso admitiu abusos no uso dos grampos, cuja regulamentação é discutida há um mês por um grupo de trabalho no ministério. Mas afirmou que o instrumento será cada vez mais usado nas investigações da PF.

- Esse não é um grupo de trabalho anti-grampo. É um grupo, inclusive, para potencializar as escutas, de modo que não extrapolem a vida privada - afirmou o ministro, depois de lançar a pedra fundamental da Escola Superior de Polícia.

As críticas por vazamentos de informações sigilosas ganharam eco no Palácio do Planalto quando vieram a público diálogos de um dos irmãos do presidente, Genival Inácio da Silva, o Vavá, com empresários investigados pela Operação Xeque-Mate. No dia 11, Lula afirmou que a PF tinha carta branca para investigar, mas advertiu que era preciso "controlar os excessos". Ontem, Tarso definiu o grampo como "instrumento fundamental do estado de direito".

- As escutas substituem meios de investigação renegados como a pressão, a força e até a violência - argumentou.

O grupo de trabalho é integrado por procuradores da República, delegados da PF e representantes do ministério. Eles já se reuniram duas vezes, mas ainda não decidiram se os debates darão origem a uma portaria, um projeto de lei ou uma medida provisória a ser encaminhada ao Planalto. Sem revelar detalhes, Tarso informou que as discussões estão "adiantadas".

Ao discursar na formatura de uma turma de agentes federais recém-formados, Tarso exaltou a "missão republicana" da PF e o aumento nos quadros da instituição - de sete mil agentes, em 2003, aos atuais 11,5 mil - e defendeu o papel da PF no combate ao desvio de verba pública.

Delegado da PF afastado recebe homenagens

A formatura foi transformada em ato de desagravo ao delegado Zulmar Pimentel, afastado em maio da direção-executiva da Polícia Federal por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Sumido de eventos públicos desde que deixou o cargo, ele se sentou à mesa das autoridades e foi cumprimentado por Tarso Genro, e pelo diretor-geral da PF, Paulo Lacerda. Todos os oradores o citaram no início dos discursos.

Pimentel é investigado por vazamento de informações sigilosas da Operação Octopus, que deu origem à Operação Navalha. Segundo relatório da Divisão de Contra-Inteligência da PF, ele teria avisado o então superintendente no Ceará, João Batista Santana, de que ele estava na mira dos colegas.