Título: Atitude de assessora chama atenção
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 05/07/2007, O País, p. 8

Secretária-geral da Mesa do Senado tem participado de decisões sobre Renan.

BRASÍLIA. A carioca Cláudia Lyra, secretária-geral da Mesa do Senado, tinha adotado como lema mais ouvir do que falar. Há três meses, quando assumiu o cargo, a psicóloga por formação e especialista em direito legislativo ouviu esse conselho de seu antecessor, Raimundo Carreiro, que usou o mesmo lema nos 13 anos em que ocupou a função. Discreta, em público ela segue à risca o ensinamento, mas, nos últimos dias, nas reuniões decisivas para o futuro do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ela tem falado muito. E tem sido ouvida na defesa de questões jurídicas que beneficiam o senador na Mesa e no Conselho de Ética.

Na reunião da Mesa, anteontem, quando sete senadores anularam a manobra de Renan para tentar arquivar o caso, Cláudia teve participação decisiva para evitar que o caso fosse levado ao plenário, onde uma derrota fragilizaria ainda mais o presidente do Senado. Os integrantes da Mesa, liderados pelo vice-presidente Tião Viana (PT-AC), haviam decidido devolver o processo ao Conselho. Para avalizar sua decisão, decidiram, por unanimidade, que a medida deveria ser submetida ao plenário do Senado, em voto aberto.

Quando os aliados de Renan souberam, reagiram imediatamente. Coube a Cláudia defender a tese de que, submetido o caso ao plenário em voto aberto, Renan estaria sendo prejulgado. Por essa interpretação, a votação seria uma prévia da provável votação de perda de mandato, o que constitucionalmente só pode acontecer por voto secreto.

Os integrantes da Mesa aceitaram seu argumento e recuaram da votação em plenário, onde Renan já não tem situação tão confortável. O caso voltou diretamente para o Conselho.

- Há brechas para vários tipos de interpretação jurídica. Eu presto um assessoramento técnico. Mas a decisão política é dos senadores. Não faço encaminhamento político para beneficiar alguém - diz Cláudia.

Como secretária-geral da Mesa, ela atua como uma sombra de Renan na Mesa do plenário e nas principais reuniões em seu gabinete. Nas sessões do Conselho de Ética mais decisivas, Cláudia também assessora o presidente e o relator. Também ajudou o advogado particular de Renan, Eduardo Ferrão, quando ele apresentou a defesa do senador no Conselho. Embora o Conselho seja um órgão vinculado à secretaria-geral da Mesa, essa atuação direta não é usual.

Senadores acham que Cláudia, por ser nova no cargo, está mais vulnerável à influência de Renan. Até então secretária-adjunta, ela assumiu o posto em março, quando Carreiro se tornou ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), numa das vagas preenchidas pelo Congresso. Cláudia comanda uma equipe de 357 técnicos e é responsável pelo encaminhamento de toda a tramitação legislativa do Senado.