Título: Renan prefere culpar a mídia e fala em 3º turno
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 05/07/2007, O País, p. 8

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Peemedebista diz que não tem culpa pelos problemas em notas fiscais de seus clientes.

"Eu não sei do que me acusam", diz o senador, suspeito de ter despesas pagas por lobista de empreiteira.

BRASÍLIA. Um dia depois de enfrentar o constrangimento de ouvir em plenário o apelo de pelo menos 14 colegas para que se afaste da presidência do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) resolveu atacar a mídia, acusando setores da imprensa de quererem derrubá-lo, e disse não saber do que está sendo acusado:

- O que está acontecendo é uma covardia. Setores da mídia tentaram derrubar o presidente da República, não conseguiram, perderam no primeiro e no segundo turno, e agora querem fazer com o presidente do Senado uma espécie de terceiro turno. São esses apetites movidos pelas pessoas que jogam pedras e escondem as mãos. É isso que precisa ser enfrentado. Por que não fazemos um debate? - disse Renan.

O presidente do Senado disse ainda que é preciso ficar claro do que ele está sendo acusado:

- Eu não sei do que me acusam. O Brasil não sabe do que me acusa. Essa crise é uma crise artificial. O que há contra mim? Qual é a acusação que me fazem? Que eu tive um filho fora do casamento? Eu já me penitenciei, pedi perdão, fui perdoado por quem devia. Do que me acusam mais? O direito à presunção da inocência é meu. Eu abri mão desse direito. Fiz a prova contrária. Eu estou fazendo o que o Brasil quer que o presidente do Senado faça, com a maior coragem, com a maior tranqüilidade, conversando com vocês, falando a verdade, olhando nos olhos. É isso o que o Brasil quer saber - afirmou ele.

"As notas são autênticas"

Renan Calheiros questiona as acusações de que teria tido despesas pessoais pagas por Cláudio Gontijo, lobista da empreiteira Mendes Júnior. Ele rebateu as suspeitas de que seriam frios recibos e notas fiscais apresentados em sua defesa para comprovar que tinha renda suficiente para pagar a pensão de R$8 mil para a jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha.

- Essa hipótese (de os recibos serem frios) não existe. As notas foram atestadas, são autênticas, foram entregues como autênticas. As notas dos compradores é outro problema. Tudo o que eu fiz está absolutamente correto. Eu paguei imposto pelo número de gado vendido, pelo faturamento máximo. Apliquei a alíquota de 27%, paguei 20% de imposto. Eu dei informações que nem precisava dar. A verdade com que eu conduzi os fatos e a transparência da minha vida são algo que não pode ser escondido - argumentou.

Renan disse que não se sentiu, em momento algum, constrangido diante da sugestão de vários colegas para que se licencie da presidência do Senado. E afirmou ainda que o episódio não deixará seqüelas.

- Absolutamente não há seqüelas. Vocês viram que o Senado é a casa da maturidade, da democracia da representação dos estados. Ontem (anteontem) nós travamos um debate, e nem sempre havia coincidência sobre o que era dito. Mas nós levamos o debate no melhor nível possível, demonstrando o nível da Casa e a maneira como a Casa tratará qualquer problema - disse Renan sobre a constrangedora sessão em que seu afastamento do cargo foi pedido por senadores de quase todos os partidos.