Título: Lobby da máfia do jogo atua no Congresso
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 05/07/2007, Rio, p. 12

Terceira fase da Operação Hurricane prende delegados e funcionários da Polícia Federal.

Um braço da máfia dos caça-níqueis do Rio atuando no Congresso Nacional foi identificado ontem pela Polícia Federal com a deflagração da terceira fase da Operação Hurricane (furacão, em inglês). Das 13 pessoas que tiveram a prisão preventiva decretada anteontem pela Justiça Federal, duas são suspeitas de fazerem lobby entre deputados federais da CPI dos Bingos para beneficiar "banqueiros" de bicho e empresários de jogos ilegais. O advogado Wilber Corrêa da Silva, preso em Brasília, e o empresário José Ferreira dos Nascimento, o Zé Índio, ex-deputado federal preso em São Paulo, teriam agido para impedir que o ex-presidente da Associação de Bingos do Rio José Renato Granado Ferreira, preso na primeira fase da Hurricane, prestasse depoimento à CPI . Os lobistas obtiveram sucesso: em mais de um ano de atividades, a CPI não tomou o depoimento de Granado e nem de nenhum dos integrantes da cúpula do jogo do bicho no Rio.

- Eu não me lembro se ele foi ou não intimado para depor. Você está me cobrando uma memória extraordinária, que eu não tenho - afirmou o senador Efraim de Moraes (DEM-PB), ex-presidente da CPI.

Crimes atribuídos aos chefões da jogatina não foram investigados

Controlada com mão de ferro por Efraim, a CPI dos Bingos escarafunchou informações que vão do assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel à casa do lobby de Ribeirão Preto em Brasília. Mas passou ao largo de crimes que a PF e o Ministério Público Federal imputam aos chefes dos jogos no país. Eleito deputado federal em 1998 pelo PPB com 107.381 votos, Zé Índio construiu sua carreira política no grupo liderado pelo ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf.

Os procuradores Orlando Monteiro, Fábio Seghese e Marcelo Freire, do Ministério Público Federal, disseram que não há dúvidas do envolvimento do advogado Wilber com a máfia dos caça-níqueis e revelaram que há indícios da participação de deputados federais. Wilber Corrêa, segundo o MP, foi preso na operação Sanguessuga pelos mesmos fatos: atuando como lobista e intermediando pagamentos a parlamentares.

- Nessa investigação, da Hurricane, constatamos que houve corrupção de algum assessor parlamentar. Não se sabe quem, mas foi para adiar o depoimento do José Renato na CPI dos Bingos. Houve uma movimentação com a finalidade de depositar dinheiro na conta do Wilber e do Zé Índio, a fim de que eles atuassem junto ao Congresso Nacional - afirmou Orlando Monteiro.

Ao todo, a terceira fase da Hurricane chegou a 15 pessoas - denunciadas pelo MP por crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha. Treze delas tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça Federal, mas quatro já estavam presas desde a primeira fase da operação. O restante do grupo é formado por dois delegados federais (Flávio Furtado e Osvaldo da Cruz Ferreira), um escrivão da ativa (Carlos Alberto Araújo Lima) e outro aposentado (Sebastião Miranda Monteiro); o funcionário civil da PF Marcos Vinicius Saraiva; o advogado Wilber e o empresário José Ferreira. O único que não foi preso, Gustavo Alberini, teria viajado para a Europa na semana passada. Foi presa ainda Marinilde de Fátima Rodrigues Ferreira, mulher de Osvaldo.

Delegado é suspeito de achacar empresário

O delegado Delci Teixeira, superintendente da Polícia Federal, informou que, durante as investigações, ficou também provada a participação do delegado Osvaldo Ferreira, da Delegacia de Polícia Fazendária, em vários casos de corrupção envolvendo empresários. Num dos casos, ele foi flagrado em escutas telefônicas tentando supostamente achacar empresários, entre eles um ligado à Cervejaria Brahma (Ambev). Em outro caso, Osvaldo teria supostamente pedido a um advogado R$30 mil para arquivar um inquérito do seu cliente.

Procurada pelo GLOBO, a Ambev disse apenas que não tem informações sobre qualquer coação relativa ao inquérito citado na denúncia. Informou ainda que o advogado citado não é seu empregado direto, mas confirmou que "ele teria sido contratado para atuar no inquérito e nunca fez qualquer relato sobre ameaças feitas pelo delegado Osvaldo da Cruz".

COLABORARAM Adauri Antunes Barbosa (de São Paulo), Jailton de Carvalho e Maria Lima (de Brasília)