Título: Suplentes, uma anomalia
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 06/07/2007, O Globo, p. 2

Quem não deve, não teme; quem não teme, não renuncia. Joaquim Roriz é mais um político em maus lençóis que, jurando inocência, renuncia para escapar do processo de cassação. Preserva os direitos políticos e a chance de se reeleger. Contra esse crime de lesa-voto, falta uma regra tornando inelegíveis os que renunciaram nessas condições. A substituição de Roriz também nos cobra outra mudança, o fim da figura anômala do suplente de senador.

Mas como, se até uma reforma política bem tímida, que nem tratava dessa e de outras mudanças necessárias, acaba de morrer na Câmara? Talvez só uma mini-constituinte exclusiva, destinada a reformar o sistema político e o tributário, tenha ousadia para tanto. Existe a proposta de Miro Teixeira, nesse sentido. Todos louvam, mas ninguém faz andar. O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, também defende a convocação desta mini-assembléia, destinada a fazer essas duas importantes reformas e nada mais. Seus membros não poderiam disputar eleições pelo prazo de dez anos. Excluídos das disputas, não aprovariam regras para si mesmos. Pensariam mais no aperfeiçoamento do sistema e da vida democrática e menos nas conveniências eleitorais.

Mais que anomalia, o suplente de senador é uma excrescência, uma protuberância antidemocrática. Eles geralmente são figuras mais conhecidas pela situação econômica do que pela trajetória política ou pelos serviços prestados à sociedade. Freqüentemente entram nas chapas para bancar a campanha. Às vezes, com a promessa do titular de deixá-lo assumir por alguns meses. Isso também é crime de lesa-voto. O eleitor escolhe Joaquim, mas quem vai legislar em seu nome e representar o estado é um tal de Gim, que não recebeu um só voto. No caso de Joaquim Roriz, o primeiro suplente, Gim Argello, acusado do crime de grilagem de terras, já assume sob o risco de responder a processo no Conselho de Ética. O rumor sobre um pacto de renúncias conjuntas entre Roriz e seus dois suplentes deu a medida da anomalia: eles renunciaram, forçando nova eleição, e a ela Roriz concorreria, com grandes chances de se eleger. Seria a completa supressão de todo esforço moralizador da vida parlamentar. A chicana com o voto do eleitor.

Muitos são os projetos em tramitação, acabando com a figura do suplente e estabelecendo que, na vacância, assume o segundo candidato mais votado, solução de maior respeito à vontade popular. Mas caímos no de sempre: projetos há, o que falta é vontade de votar para mudar.

Do senador Heráclito Fortes ao embaixador da Venezuela, Julio Montoya, após ouvir que Chávez não deu ultimato algum ao Congresso brasileiro: "Vamos reabrir o diálogo, até que a próxima frase agressiva de Chávez nos separe".

Renan: "Não serei um senador-zumbi"

Enquanto o Conselho de Ética programa investigações rigorosas, o senador Renan Calheiros parece ter os olhos já postos na decisiva batalha, a do plenário. A correlação de forças no Conselho se tornou muito desfavorável a ele. No plenário ele ainda teria, hoje, votos para ser absolvido. Por isso mesmo, não se afastará do posto.

- Se eu deixar a presidência, serei um senador zumbi, um morto-vivo. Não farei isso. Acharam que me espancando, eu correria. Não corri. Para me tirarem da presidência, terão que cassar meu mandato. Alguns podem sujar as mãos na injustiça, mas não creio que a maioria de meus pares fará isso - disse ele ontem à coluna.

Ele admite que errou ao assumir o ônus de refutar uma acusação que a revista "Veja" não provara. Os documentos de contraprova geraram outras acusações. Cita Sêneca: "Não se deve mostrar provas a quem não quer vê-las".

Acredita que respondeu ao objeto da representação do PSOL - a suspeita de ter tido despesas pessoais pagas por uma empresa. "Já demonstrei que tinha recursos e movimentação bancária suficiente", diz exibindo um volume, "O dossiê ignorado". É o conjunto de cópias dos documentos que, a seu ver, tanto a imprensa quanto os conselheiros teriam ignorado.

Mas agora, ele sabe, o foco das investigações será sobre a suspeita de que apresentou documentos ou negócios fraudados.

- Esta narrativa não vai se sustentar. Não posso ser culpado por falhas, fiscais ou outras, daqueles com quem fiz negócios. Importante é que todos os cheques têm cópias e foram depositados em minhas contas. Alguns compradores usaram cheques de terceiros, mas isso é comum, não é crime.

Pedidos para se afastar, ouviu dezenas, cara a cara. Irá presidir a votação da LDO, sob a ameaça de alguns deputados de tumultuarem a sessão?

- Não vou me demitir de minhas funções. Se a LDO ficar pronta, vamos votar.

DO DEPUTADO Tadeu Filipelli sobre o "apadrinhamento" de Carlos Brito, que Roriz teria indicado para a CEF. "Não foi Roriz. Os verdadeiros padrinhos são os 16 deputados da bancada do Centro-Oeste, que eu coordeno. Indicaram também Maguito Vilela para o Banco do Brasil." Faz diferença nominal mas não muda o essencial, o loteamento político dos dois bancos.

O SEGUNDO suplente de Joaquim Roriz, Marcos de Almeida Castro, afirma: "Não participei de pacto para renunciar, até porque não pensei em assumir. Legalmente, a vaga cabe ao primeiro suplente".