Título: 'Líderes políticos parecem satisfeitos de ver a impunidade de Calheiros'
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 06/07/2007, O País, p. 4

Jornal britânico relata aumento da pressão para que Renan deixe cargo.

O jornal britânico "Financial Times", um dos mais respeitados do mundo na área econômica, publicou ontem reportagem sobre as denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e as idas e vindas da representação do PSOL contra ele na Casa. De acordo com o jornal, "a saga do peemedebista está desafiando a credulidade dos brasileiros comuns já acostumados aos escândalos políticos".

A reportagem conta as denúncias envolvendo o parlamentar, a jornalista Mônica Velloso e o lobista Cláudio Gontijo. Para o FT, "a pressão sobre o senador vem aumentando, e o Congresso está paralisado nas últimas seis semanas".

"Pela confissão do próprio senador, um empregado de uma empresa de construção, contratada para grandes obras públicas dependente de emendas sob o controle de Renan, todos os meses por dois anos, enviava pagamentos em dinheiro de cerca de R$12 mil para uma ex-jornalista com quem o senador casado tinha um caso e com quem tem uma filha de 3 anos. Renan diz que isso não o torna culpado de nada", relata o jornal.

"Lula foi visto dando tapinhas nas costas dele"

Um trecho da reportagem diz que "líderes políticos parecem satisfeitos de ver a impunidade desfrutada por Calheiros". "Lula da Silva foi visto recentemente dando tapinhas nas costas dele", acrescenta o FT.

"Ao lado do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), que renunciou na noite de quarta-feira, o caso Renan Calheiros faz parte da onda quase ininterrupta de acusações que atingem o governo Lula desde 2005", afirma o jornal britânico.

"Quando os primeiros escândalos apareceram, provocaram danos aos índices de popularidade de Lula. Mas pesquisas recentes sugerem que os eleitores não associam mais o presidente com a corrupção, ou não esperam nada melhor de seus políticos", diz a reportagem.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) foi entrevistado e disse que "projetos de lei do interesse de muitas pessoas estão em suspenso por causa do escândalo". A reportagem informa que a Ordem dos Advogados do Brasil pediu que Renan renunciasse e também que grupos religiosos e econômicos estão pressionando os parlamentares pela renúncia.

O jornal afirma que os políticos são uma classe especialmente privilegiada no Brasil. Em seguida cita a informação - publicada pelo GLOBO na série "Impunidade, o Brasil vive o crime sem castigo" - de que, uma vez eleitos, só podem ser processados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que jamais condenou alguém em processos criminais.