Título: Dom Odilo: bom senso indicaria a renúncia de Renan da presidência
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 06/07/2007, O País, p. 4

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Saída permitiria investigação isenta, diz religioso.

Para arcebispo, filho que senador tem fora do casamento não está em debate.

SÃO PAULO. O arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, disse ontem que o "bom senso" indica que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deveria se afastar do cargo para que as acusações que pesam contra ele sejam apuradas com isenção. Para ele, o afastamento serviria para separar a vida pública de Renan de sua vida privada.

- Ele está à frente de uma instituição importante da República. A defesa pessoal dele, a apresentação de argumentos que possam eventualmente comprovar, segundo ele pretende, sua inocência das acusações, que isso possa ser feito com plena isenção à gestão do próprio poder que lhe é conferido diante do Senado. O bom senso indicaria por aí - disse dom Odilo, em entrevista na Cúria Metropolitana de São Paulo.

"Pelo jeito, ele não está disposto a renunciar"

Segundo dom Odilo, a renúncia, decisão tomada na quarta-feira pelo então senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), é uma questão que o próprio Renan deveria levar em conta:

- É uma questão que ele (Renan) deve considerar. Pelo jeito, não está disposto a renunciar. A questão é justamente essa dificuldade que se põe, que o presidente de uma instituição tão importante como é o Senado e o Congresso esteja sob investigação. É muito difícil manter a distinção entre aquilo que é de interesse privado e a gestão da instituição. O bom senso mandaria separar as duas coisas para que se possa investigar.

Dom Odilo evitou dizer se aconselharia Renan:

- Há aqui um peso político, um peso eventualmente jurídico a ser considerado e, claro, isso deixo para a sociedade discutir. Posso ter minha opinião pessoal, mas não é o caso de revelar, porque dificilmente será separada da opinião do padre.

O religioso lembrou que o fato de Renan ter um filho fora do casamento não está em discussão como argumento para seu afastamento do cargo:

- As suspeitas são de tráfico de influência, de pouca clareza na gestão do patrimônio. Por aí o Conselho de Ética deve fazer seu trabalho. Se ele for inocente, que apareça também a inocência.