Título: Conselho analisará variação patrimonial de Renan
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 06/07/2007, O País, p. 5

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Irritado com exigência de provas, presidente do Senado acusa colegas de ignorar sua defesa.

Polícia Federal pede prazo de 20 dias para concluir perícia em documentos apresentados pelo senador.

BRASÍLIA. Em nova fase e fortalecido pela decisão da Mesa do Senado, o Conselho de Ética prometeu aprofundar a investigação sobre o caso Renan Calheiros. A Polícia Federal pediu ontem um prazo de pelo menos 20 dias para concluir a perícia nos documentos de defesa apresentados pelo presidente do Senado, analisando não só a autenticidade das notas de compra e venda de gado, mas também se essas transações efetivamente ocorreram. O novo trio de relatores do processo contra Renan anunciou também que pretende analisar a evolução patrimonial de 2002 a 2006 e as liberações de recursos orçamentários nesse mesmo período para a empreiteira Mendes Júnior. O senador é suspeito de ter despesas pagas por um lobista da empresa.

Quintanilha pedirá que Mesa autorize investigação da PF

Na terça-feira, o presidente do Conselho de Ética, senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), deverá encaminhar à Mesa do Senado o pedido formal para que a PF dê continuidade às investigações.

- Decidimos abrir duas frentes de investigação: uma interna, que analisará a evolução patrimonial do senador Renan, e outra externa, que será feita pela Polícia Federal - confirmou Quintanilha, após a primeira reunião com os relatores do processo contra Renan.

Dos três novos relatores nomeados, apenas os senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) participaram da reunião com Quintanilha e depois seguiram para uma audiência com o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda. O terceiro relator, senador Almeida Lima (PMDB-SE), principal aliado de Renan na comissão de inquérito, foi consultado por telefone. Ele está em seu estado fazendo exames médicos em função de uma crise renal. Até a próxima segunda-feira, os relatores deverão fazer um levantamento indicando os documentos que estariam faltando para que a PF possa fazer uma perícia mais precisa.

- A primeira perícia já indicava a falta da primeira via de alguns documentos e assim como de notas fiscais - explicou Casagrande.

Senador quer comandar votação da LDO

Sem conseguir disfarçar a irritação com a notícia de que os relatores estariam dispostos a lhe pedir novas provas de sua inocência, Renan chegou ontem ao Senado com uma cópia de sua defesa debaixo do braço e acusou os colegas de não terem dado importância a ela.

- Em nenhum momento perdi o direito da presunção de minha inocência, mas, mesmo assim, apresentei as provas contrárias. A minha defesa está aqui, mas foi ignorada. Mas é isso que vai demonstrar que estou com a razão - garantiu Renan, exibindo a cópia de sua defesa.

O presidente do Senado terá um prazo de até cinco dias para apresentar novas provas, se esses documentos forem pedidos ou mesmo se ele achar necessário. O Conselho de Ética optou por perguntar formalmente a Renan e ao PSOL se têm algum questionamento específico a fazer à PF, além daqueles já definidos pelos relatores do caso. Se tiverem, eles deverão se manifestar até a próxima terça-feira.

Só após a perícia da PF é que os novos relatores deverão decidir se vão ou não convidar o presidente do Senado para depor no Conselho, antes de apresentarem suas conclusões finais sobre a investigação.

A avaliação dos aliados de Renan é que seu destino está ligado diretamente ao resultado da perícia da Polícia Federal. Renan pretende usar o prazo de 20 dias solicitado pela PF para tentar diminuir a temperatura da crise. E, com isso, ter condições de presidir a sessão do Congresso, no plenário da Câmara, para a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Chinaglia: "A notícia não é boa para o Congresso"

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), admitiu ontem que as notícias sobre o colega senador não são positivas para o Congresso, mas evitou comentar a situação de Renan. Ele reiterou que caberá ao presidente do Senado decidir se vai presidir a sessão do Congresso, que deve ocorrer na quarta-feira.

- Evidentemente que toda vez que um membro do Congresso tem que responder a acusação, mesmo sem conclusão de culpa, é claro que isso cria uma notícia que não é positiva para o Congresso. Evito entrar no mérito das questões do Senado pelo óbvio. Não vejo o Congresso só por aquilo que é noticiado de ruim. Essa semana foi de muito serviço na Câmara. Mas é claro que nos assuntos específicos não é boa a noticia - disse Chinaglia.

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