Título: Jaguar e Ziraldo pedem pensão e esperam críticas
Autor: Lamego, Cláudia e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 06/07/2007, O País, p. 9

Processos dos cartunistas cobrando indenização por perseguição no regime militar será votado pela Comissão de Anistia.

BRASÍLIA E RIO. De críticos da ditadura, os cartunistas Jaguar e Ziraldo acham que agora podem virar vidraça. É que a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça está prestes a julgar o processo de indenização dos dois por perseguição pelos governos militares de 1964 a 1984. Se aprovado, dois dos fundadores do Pasquim, semanário que fez história combatendo o golpe militar, podem receber uma pensão mensal da União. E esperam muitas críticas por isso, embora achem justa a reparação.

- Muitos que vão me criticar ficaram quietinhos, enquanto a gente dava e levava porrada do governo. Se houver crítica, não vejo razão alguma. Passei muito sufoco. Fui preso em 1970, e passei dois meses na Vila Militar, em Deodoro. Fui demitido pelo Samuel Wainer da "Última hora". As bancas que vendiam o Pasquim eram ameaçadas, até bomba jogaram numa das redações. Eu não tinha dinheiro para pagar aluguel e fiquei muito tempo morando na redação, dormindo em colchonete, debaixo da prancheta - diz Jaguar.

Ziraldo diz que não foram eles que pediram a pensão, mas o Sindicato dos Jornalistas, ainda na década de 90. Na ação, foi pedida uma pensão mensal e não uma indenização em uma parcela apenas. O ministério não informou os valores aos quais os dois teriam direito. E também não marcou ainda uma data para julgamento, mas informou que os processos dos dois estão prontos para serem analisados.

- Nem eu nem o Jaguar entramos com qualquer requerimento. Nunca contratamos advogado. Foi o Sindicato dos Jornalistas que fez uma lista de todos os que tiveram problema com a ditadura e entrou com o pedido. Na época, teve uma polêmica porque tinha gente na lista que não era jornalista. Mas não temos culpa disso. Acho ótimo que o país me compense pela sacanagem que me fizeram - disse Ziraldo.

Processos de ex-presidentes da UNE serão julgados hoje

Ziraldo também ficou encarcerado, por dois meses, com Jaguar e parte da turma do Pasquim na Vila Militar. Eles foram presos em outubro, e saíram de lá em dezembro de 1970.

- Teve bomba no Pasquim, apreenderam o jornal, censuraram vários números, botaram fogo nas bancas, fecharam várias publicações onde trabalhei. A minha aposentadoria é de apenas mil reais. Perdi muita coisa porque batia no governo. Sei que vou receber críticas. Mas esse negócio de ficar velho sem aposentadoria não dá - brinca Ziraldo, que, como Jaguar, tem 75 anos.

No congresso que comemora os 70 anos da União Nacional dos Estudantes (UNE), a Comissão de Anistia se reunirá para julgar processos de dois ex-presidentes da entidade - Jean Marc Von der Weid e Aldo Arantes. Ambos pedem indenização por terem sido demitidos, na época da ditadura militar, por motivação política. Eles devem receber parcelas mensais correspondentes aos prejuízos pela demissão.

Jean Marc foi presidente da UNE depois do histórico congresso de Ibiúna, em 1968, invadido pelo Exército, que prendeu os participantes. À época, Jean Marc era funcionário do Serpro, e foi demitido em 1981. Em seguida, se exilou na França. Hoje é especialista em planejamento agrícola e alimentação.

O ex-deputado Aldo Arantes (eleito quatro vezes pelo PCdoB de Goiás) era funcionário do Incra, de onde foi demitido em 1964. O processo prevê o pagamento de indenização mensal. Aldo Arantes foi eleito presidente da UNE em 1961.