Título: A reforma política foi para o beleléu
Autor: Jungblut, Cristiane e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 06/07/2007, O País, p. 10

Líderes da base do governo praticamente enterram chance de mudanças.

BRASÍLIA. Uma reunião do Conselho Político do governo, integrado por representantes dos 11 partidos da coalizão, praticamente determinou o enterro da reforma política, que, anteontem, já havia saído da pauta de votação, e que vem definhando desde que os parlamentares rejeitaram a proposta de lista fechada para a eleição de deputados.

Os aliados saíram do encontro com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, dizendo que a reforma dificilmente irá a voto antes de agosto. A informação deixou surpreso o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que avisou que vai manter a proposta na pauta de votação da próxima semana.

Um dos participantes da reunião no Palácio do Planalto, o líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), disse que os governistas decidiram adiar por falta de condições políticas para votar os principais pontos da reforma, como o financiamento público de campanha. Segundo ele, a discussão começará da estaca zero, no próximo semestre, sem prazo para a votação.

- A reforma política foi para o beleléu. Começamos achando que faríamos uma reforma tipo Mercedes, mudamos para um Fusquinha e acabamos com uma bicicleta de pneu furado. Ou seja, ficamos na mesma. Esse passo morreu. E sabe lá Deus quando votaremos - disse.

Partidos governistas vão fazer seminário

O líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), disse que em agosto os partidos governistas devem fazer seminário para discutir o assunto. Ele afirmou que o governo não se intromete na discussão do Congresso sobre o tema, e que a fidelidade partidária poderá ser votada em separado:

- Na reforma política, cada deputado tem um raciocínio.

Ao ser informado de que os partidos da coalizão haviam decidido adiar as discussões para agosto, Chinaglia disse que os líderes governistas terão que comunicar a decisão ao plenário, já que a pauta da Câmara é determinada pelo presidente da Casa e pelos líderes dos partidos.

- Defendo que continuemos votando. A reforma política vai deixar de ser um fantasma. Se a base aliada não quer mais votar, ela vai ter que dizer isso no Plenário - disse.

Chinaglia lembrou que os defensores da reforma política reapresentaram anteontem emenda aglutinativa que prevê o financiamento público de campanha para eleições majoritárias, ou seja, para presidente da República, governadores, prefeitos e senadores. Para o deputado, há chances de se aprovar pelo menos mudanças nas regras sobre fidelidade partidária.

Anteontem, a votação da proposta foi derrubada por questão de ordem técnica levantada pelo deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que é contra qualquer reforma política. Um dos autores da emenda aglutinativa sobre a reforma, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), criticou a decisão dos líderes governistas:

- Prefiro acreditar na palavra do presidente Chinaglia e não enxergo o ministro Walfrido pautando a Câmara. É algo que constrange o Legislativo. Acho que eles mudaram por causa da votação da CPMF, mas agora a questão terá que ser no voto.

Na reunião, um dos primeiros a falar contra a votação foi o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, que disse faltar condições políticas. O PT e o PMDB vinham defendendo a reforma, ao lado do DEM. Já o PSDB e o PDT, por exemplo, são contra a proposta em discussão.