Título: Um milhão de colombianos contra as Farc
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Fonte: O Globo, 06/07/2007, O Mundo, p. 29

País tem maior manifestação de sua história recente, contra morte de 11 deputados em cativeiro.

BOGOTÁ. Mais de um milhão de colombianos saíram às ruas das principais cidades para protestar contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), pela morte de 11 deputados que estavam em cativeiro e para exigir a libertação das mais de três mil pessoas seqüestradas ainda em poder da guerrilha. Foi a maior manifestação política da história recente do país, de 42 milhões de habitantes.

Bogotá, Medellín e Cali, as três maiores cidades do país, pararam ontem com multidões tomando as ruas e gritando "liberdade, liberdade", em referência aos reféns das Farc. Manifestações proporcionalmente tão grandes como as das metrópoles ocorreram em praticamente todas as cidades colombianas.

- Sejamos todos uma só voz no rechaço aos seqüestros. Temos que deixar de ser coros desafinados e nos unir para rechaçar esse ato tão terrível - disse o cantor colombiano Juanes, que participou da manifestação em Medellín.

Semana passada, as Farc divulgaram que 11 deputados seqüestrados em 2002 haviam morrido num "fogo cruzado" depois que um grupo armado, não identificado pela guerrilha, tentou invadir a área do cativeiro. O governo colombiano afirma que os deputados foram executados. A guerrilha tem se recusado a entregar os corpos, impedindo que as famílias realizem os funerais e o governo faça autópsias que verificariam se os reféns foram assassinados.

Alvaro Uribe se recusa a negociar com a guerrilha

O caso foi o estopim para a reação popular de ontem. As manifestações foram convocadas pelo governador do Valle del Cauca (sudoeste), Angelino Garzón, e foi encampada pelo presidente, Alvaro Uribe, e por governantes de todos os departamentos (estados) e municípios do país, além de todos os setores civis da sociedade colombiana. Ontem foi decretado ponto facultativo em todo o país.

Uribe participou de uma missa na catedral e da gigantesca marcha em Bogotá, usando uma camiseta com os dizeres "Liberdade sem condições já". É uma referência ao fato de as Farc estarem exigindo que o governo retire militares de uma área de 800 quilômetros quadrados no sul do país para negociar uma troca de prisioneiros. O presidente se nega terminantemente a isso:

- Não podemos aceitar a criação de zonas seguras para os terroristas. Não podemos aceitar que rebeldes sejam libertados da prisão para voltar a matar pessoas.

Essa acabou sendo a única divisão entre os manifestantes que participaram dos protestos. Em Cali, cidade onde foram seqüestrados os 11 deputados mortos, por exemplo, parte das pessoas na marcha gritava, em coro: "Não ao deslocamento militar. Liberdade sem condições já." Em resposta, outro grupo cantava: "Sim ao acordo humanitário, não ao resgate a sangue e fogo."

Fabiola Perdomo, mulher de um dos deputados mortos no cativeiro das Farc, defendeu um acordo:

- É a única saída para a tragédia que vivem os colombianos - disse.