Título: O Planalto bem que tentou
Autor: Krieger, Gustavo
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2009, Política - Tema do Dia, p. 2

Foi uma luta vã, a ação do ministro José Múcio para barrar a vitória de collor. Na base aliada, ficou a mágoa do PT depois da votação favorável ao petebista

governo tentou até o último momento impedir a disputa no voto pela Comissão de Infraestrutura do Senado. Como a contabilidade do Palácio do Planalto apontava para a vitória de Fernando collor (PTB-AL), os esforços de última hora foram para tentar convencer a petista Ideli Salvatti (SC) a desistir. Ela recebeu ofertas tentadoras. A principal foi a liderança do governo no Congresso, cargo que ficará vago com a provável posse da senadora Roseana Sarney no governo do Maranhão (leia mais na página 10). As negociações se estenderam até a abertura da reunião da comissão, mas o PT não aceitou.

O líder do partido, Aloizio Mercadante (SP), buscou inutilmente conseguir o apoio do Palácio do Planalto. Começou a disparar telefonemas para o palácio antes das 7h. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu sua postura habitual e não se envolveu.

O ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, era o encarregado de convencer o PTB, seu partido, a desistir. Múcio se viu numa situação delicada. Como articulador político do governo, sua missão é evitar esse tipo de conflito. Além disso, não é segredo para ninguém que o PT sonha em derrubá-lo e ocupar seu cargo. Tudo o que ele não queria era ver sua bancada envolvida num confronto direto com o PT.

Os esforços não deram em nada. Com o apoio assegurado do PMDB e do DEM, os petebistas contavam com a vitória. Em princípio, a diferença seria de apenas um voto, mas cresceu graças a uma defecção no PSDB, que apoiava Ideli. O senador Marconi Perillo (GO), adversário histórico do PT, não apareceu para votar. Em seu lugar votou um senador do DEM, que forma um bloco parlamentar com os tucanos.

Divisão O governo acompanhou a disputa com muita preocupação. O Senado é o principal problema político de Lula. Na Casa, o governo não tem votos suficientes para aprovar emendas constitucionais e corre risco até em questões onde é necessário obter maioria absoluta. ¿Não tínhamos como ganhar¿, resume um ministro. ¿Ou o PT batia o PMDB e o PTB ou o contrário. Qualquer que fosse o resultado, uma parte da base sairia furiosa com a outra.¿

¿Certamente haverá sequelas¿, resumiu Mercadante ao fim da eleição. O governo se preocupa em minimizar os danos. Ontem, após a reunião, José Múcio assumiu um discurso conciliador. Prometeu que collor trabalhará afinado com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência da República. ¿Não tenho dúvida nenhuma que com a experiência dele e como a Comissão de Infraestrutura tem que ter uma afinidade com a ministra Dilma por causa do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Tenho certeza que os dois vão se ajudar¿, disse.