Título: Senado: um clube de amigos há 181 anos
Autor: Medeiros, Lydia
Fonte: O Globo, 08/07/2007, O País, p. 10

Demora da instituição em reagir aos escândalos de corrupção mostra dificuldade dos senadores de punir seus pares.

"Tinham um ar de família, que se dispersava durante a estação calmosa, para ir às águas e outras diversões, e que se reunia depois, em prazo certo, anos e anos. Alguns não tornavam mais, e outros novos apareciam; mas também nas famílias se morre e nasce. Dissentiam sempre, mas é próprio das famílias numerosas brigarem, fazerem as pazes e tornarem a brigar; parece até que é a melhor prova de estar dentro da humanidade."

Assim descreveu Machado de Assis o Senado dos tempos do Império, numa crônica publicada em 1899 ("O Velho Senado"), em que evoca as lembranças do jovem jornalista que fora, acompanhando a vida na Casa. O ex-presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ao prefaciar a reedição do texto, em 1997, escreveu: "O cronista parlamentar, extraordinário, soube ser mais definitivo do que os próprios anais".

- O Senado é um clube de amigos - atesta o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal São Carlos.

Se o espírito de Machado baixasse sobre o Senado na última quinta-feira, testemunharia que algo da velha Casa, nascida 181 anos atrás, persiste no plenário forrado de carpetes azuis. Naquele dia, 14 senadores faziam contorcionismos retóricos para pedir que o senador Renan Calheiros (PMDB-AP) deixasse a cadeira de presidente. Como parentes que dizem verdades sem ofender. Vários saíam da tribuna e cumprimentavam o alvo dos discursos.

Apesar disso, a sessão foi histórica. Uma espécie de basta, de murro na mesa. Os senadores tiveram uma atitude importante, porque o que acaba ocorrendo é a desmoralização da instituição - diz Marco Villa.