Título: Feridas abertas no ninho tucano
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2009, Política, p. 5

Definição dos nomes para as comissões temáticas da Casa provoca estresse dentro da bancada do PSDB. Líder do partido, José Aníbal argumenta que é difícil agradar a todos e nega qualquer vingança

A divisão das comissões permanentes da Câmara dos Deputados deu mostras das feridas abertas entre integrantes do PSDB. O líder da bancada, José Aníbal (SP), mudou a indicação que era repetida há anos e tirou o deputado Antonio Carlos Pannunzio (SP) da Comissão de Relações Exteriores. Segundo Aníbal, a decisão foi um simples rodízio entre integrantes. Para Pannunzzio, entretanto, tratou-se de uma retaliação à sua posição contrária à reeleição do atual líder e sua condição de integrante do grupo de 19 dissidentes da bancada tucana. ¿Para não parecer perseguição, ele me colocou na Comissão de Constituição e Justiça. Foi uma atitude deplorável em que ficou clara a intenção de retaliar quem não faz parte do grupo do líder. Isso só atrapalha a unidade do partido e imita a conduta do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros¿, disse o dissidente.

As indicações do PSDB geraram insatisfação também para Ricardo Tripoli (SP), que não conseguiu integrar a Comissão de Meio Ambiente, área em que mais atua. Por meio de um acordo, os tucanos abriram mão de duas das vagas as quais tinham direito. Julio Semeghini (SP) também não ficou satisfeito com a indicação para a Comissão de Finanças, em vez de compor a Comissão de Ciência e Tecnologia: setor em que mais trabalhou desde que tornou-se deputado. ¿Ficou estranho. Dos 19, pelo menos 10 sentiram que foram colocados em áreas que não entendem e que não são seus maiores campos de atuação¿, comentou Pannunzzio, no papel de porta-voz dos insatisfeitos.

O líder da bancada rebateu as críticas, negou retaliação e disse que atendeu a maioria dos pedidos dos parlamentares, inclusive dos dissidentes. ¿Dois ou três insatisfeitos ficam tentando fazer barulho. Não tenho de dar explicações a ninguém sobre minhas decisões. É impossível em qualquer bancada deixar todo mundo satisfeito. Não entendo porque enchem minha paciência com esse tipo de questão. É só olhar nas outras bancadas e ver que sempre tem alguém reclamando. Isso é uma besteira!¿, ressaltou.

Divisões A divisão das vagas nas comissões permanentes deixou PMDB, PT e PSDB no comando das áreas mais desejadas e poderosas da Casa. Os peemedebistas conseguiram garantir o domínio das comissões de Minas e Energia, Constituição e Justiça e Seguridade Social. A primeira estava nas mãos do PP e é cobiçada pelo poder de influência na política do setor elétrico, uma das mais ricas do país. Já a CCJ é responsável por dar o tom do andamento dos projetos na Casa. Com a responsabilidade de opinar sobre a admissibilidade de todas as matérias, é a comissão que concede aos projetos a permissão para que a tramitação tenha continuidade.

A importância da Comissão de Seguridade Social, também nas mãos dos peemedebistas, não fica atrás em importância. Para citar um exemplo, uma das primeiras decisões analisadas este ano pelos integrantes da comissão será referente à proposta do Executivo de criar a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). A entidade é um desejo do governo, que espera conseguir maior controle na administração dos fundos de previdência das empresas estatais e diminuir a cobiça dos partidos aliados pela gestão dos fundos.