Título: 'O movimento estudantil está muito acomodado'
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 08/07/2007, O País, p. 12

Cristovam Buarque diz que entidade se curva ao patrocínio oficial e lamenta perfil menos utópico.

BRASÍLIA. Espalhadas pela Universidade de Brasília (UnB) durante o 50º Congresso da UNE, que termina hoje, as bancas de livros revolucionários e camisas com a estampa de Che Guevara não deixam dúvidas: apesar das transformações do país, a luta contra a ditadura nos anos 60 continua a ser a maior referência - ao menos estética - do movimento estudantil.

Único engravatado no primeiro dia de debates, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) acusou a entidade de se curvar ao patrocínio oficial. Ex-reitor da UnB, ele lamenta o perfil "mais pragmático e menos utópico" e cobra mais atenção a bandeiras ligadas à educação:

- O movimento estudantil está muito acomodado por influência do governo Lula. Quem dá dinheiro recebe simpatia.

Autor de "O poder jovem", espécie de bíblia do movimento estudantil, Arthur Poerner se emociona ao lembrar a reocupação do terreno da Praia do Flamengo 132, em fevereiro. O local abrigou a sede da UNE incendiada no golpe de 1964 e receberá novo edifício projetado por Oscar Niemeyer. Aos 67 anos, continua a participar dos congressos e defende o apoio a Lula.

Fundada durante o Estado Novo, a entidade teve seu primeiro momento de glória em 1942, quando foi às ruas para defender a entrada do Brasil na Segunda Guerra. Afinada com o ideário nacionalista do segundo governo Vargas, apoiou a campanha "O Petróleo é Nosso" e, após a derrubada de Jango, juntou-se à luta contra a ditadura.

A UNE também foi berço de políticos como o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT-SP); o ex-deputado Vladimir Palmeira (PT-RJ); o governador de São Paulo, José Serra (PSDB); e o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Hoje, está representada no governo pelo ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), presidente entre 95 e 97. (Bernardo Mello Franco)