Título: UNE completa 70 anos com dissidências
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 08/07/2007, O País, p. 12

Apoio ao governo Lula e recebimento de verbas oficiais provocam críticas à entidade, que hoje elege novo presidente.

BRASÍLIA. De braços dados com o governo desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, a União Nacional dos Estudantes (UNE) sopra as velas de 70 anos mergulhada num impasse. Acusada de aderir ao Planalto em troca de verbas oficiais, enfrenta dissidências à esquerda e vê seus filhotes radicais abocanharem fatias cada vez maiores do movimento estudantil.

Apesar das críticas, o apoio a Lula deve ser confirmado hoje, com a eleição da gaúcha Lúcia Stumpf, de 25 anos, para a presidência. Na expectativa de receber mais de 70% dos votos, é filiada ao PCdoB e milita na União da Juventude Socialista, que controla a entidade desde 1991.

Com pouco mais da metade das folhas do calendário de 2007 em branco, a UNE já bateu o recorde de recursos federais recebidos num ano. Até o último dia 2, o governo repassou R$1,99 milhão à entidade - a maior parte em convênios com o Ministério da Cultura. Dados do Siafi obtidos pela ONG Contas Abertas mostram que, desde a chegada de Lula ao poder, as verbas somam R$5,3 milhões, contra R$1,1 milhão nos oito anos de mandato de Fernando Henrique Cardoso.

O levantamento não inclui repasses de empresas estatais. Orçado em R$900 mil, o 50º Congresso da entidade, que se encerra hoje em Brasília, teve a metade das despesas bancadas por Petrobras, Caixa Econômica Federal e Correios. Apesar da escalada de recursos oficiais, o presidente que se despede, Gustavo Petta, diz que a UNE preserva a independência crítica.

- Nosso apoio é baseado em convicções políticas. Não tem a ver com o repasse de verbas - afirma.

Em 2005, no auge da crise do mensalão, a entidade foi atacada por não promover protestos contra a corrupção. Petta diz ter livrado os estudantes de se juntarem à "tropa de choque da direita". A opção fortaleceu dissidências como a Conlute, ligada ao PSTU, que comandou a recente greve na Universidade de São Paulo (USP).

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