Título: Invasão de eletrônicos chineses fecha fábricas
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 08/07/2007, Economia, p. 37

Produtos importados, muitos de qualidade duvidosa, já representam mais da metade das vendas do setor no país.

SÃO PAULO. Apesar da qualidade duvidosa de produtos eletroeletrônicos da China, que não oferecem garantia aos consumidores, sua crescente importação está fechando fábricas no Brasil. Só na Zona Franca de Manaus, principal pólo da produção de eletroeletrônicos, sete empresas fecharam as portas este ano. São fabricantes de placas e componentes utilizados em pequenos aparelhos eletrônicos como DVDs. A produção nacional desses aparelhos está sendo substituída pelos importados, que respondem por 60% das vendas.

Duas subsidiárias da Panasonic no país, controladas pela japonesa Matsushita Electric Industrial, foram as vítimas mais recentes dos chineses. Em abril, a empresa comunicou o fechamento de suas duas unidades, em Manaus (AM) e São José dos Campos (SP). As fábricas produziam componentes usados em aparelhos eletrônicos e na indústria automobilística.

Segundo comunicado da matriz, as empresas "estavam enfrentando grandes quedas nos preços em virtude do acirramento da concorrência". Mais de 700 funcionários foram demitidos.

Para especialista, há riscos de acidentes de consumo

Molex, Lesom, Jabil e Dolly, de Manaus, seguiram o mesmo caminho. No total, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, desde o início do ano 13.500 pessoas ficaram desempregadas por causa das importações de produtos chineses, embaladas pela valorização do real ante o dólar.

- Esse pessoal vai acabar dentro da floresta cortando árvores - disse Valdemir Santana, presidente do sindicato.

Para Humberto Barbato, presidente da Abinee, associação do setor eletroeletrônico, com o "dólar derretendo", as empresas perdem competitividade e adiam investimentos. Enquanto isso, aproveitam o dólar baixo e trazem produtos de fora:

- Se continuar essa política cambial, vamos ver o emprego minguar e muitos produtos deixarem de ser feitos no Brasil.

O caso da Gradiente é emblemático. Para manter a participação no mercado nacional de áudio e vídeo, em que é uma das líderes, passou a importar boa parte dos produtos e componentes, usados nos aparelhos que agora são apenas montados aqui. Hoje, suas fábricas em Manaus só produzem e montam televisores, celulares e DVDs com karaokê.

Na Ásia, a Gradiente mantém um escritório de comércio e engenharia, que desenha e projeta os produtos fabricados por indústrias chinesas. Com a mudança, o número de funcionários em Manaus foi reduzido a 450 trabalhadores - a empresa já chegou a empregar sete mil pessoas.

Além de afetar a indústria, os produtos chineses também podem ser prejudiciais à saúde. Maria Inês Dolci, da Pro Teste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, alerta para os prejuízos que o consumidor tem ao levar em conta só o preço baixo. Segundo ela, os aparelhos chineses podem causar acidentes de consumo, como choques elétricos e intoxicação:

- Além de serem ruins e fazerem mal à saúde, eles não têm assistência técnica, e o comprador não tem a quem reclamar.