Título: Procura-se um suplente
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 10/07/2007, O País, p. 8

Gim Argello, substituto de Roriz, teme representação no Conselho e se refugiou em casa de campo.

BRASÍLIA. Preocupado com a possibilidade de assumir o mandato e logo ter de enfrentar uma representação por quebra de decoro, Gim Argello (PTB-DF), suplente do ex-senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), tenta ganhar tempo. No Senado, seus colegas sustentam que ele não escapará de uma investigação no Conselho de Ética. Por outro lado, enquanto não ganha o foro privilegiado de parlamentar, terá que prestar contas à Justiça. O Ministério Público do Distrito Federal decidiu chamá-lo para depor no inquérito da Operação Aquarela, que investiga fraudes no BRB.

Roriz, que renunciou ao mandato para escapar da cassação na semana passada, também será chamado para se explicar. Os promotores do caso querem que Argello e Roriz esclareçam a origem e o destino do cheque de R$2,2 milhões que o ex-senador teria recebido do empresário Nenê Constantino, dono da Gol Linhas Aéreas, em 13 de março deste ano - uma conversa sobre a partilha do dinheiro foi flagrada pela Polícia Civil na investigação. Antes da definição das datas do depoimento dos dois, os promotores querem concluir a análise de 78 mil áudios e mais de uma tonelada de documentos apreendidos pela Aquarela.

Para enfrentar seus problemas na Justiça e no Senado, Gim contratou o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Maurício Corrêa como seu advogado. Corrêa anunciou ontem que pretende recorrer à corte - da qual já foi presidente - caso o Conselho de Ética abra processo contra seu cliente.

- Não há a menor dúvida que recorrerei ao STF, porque do ponto de vista jurídico está muito claro que fatos anteriores à posse de um parlamentar não podem instruir um processo por quebra de decoro. Mas eu acredito no bom senso do presidente do Conselho de Ética - adiantou Corrêa.

Ele está disposto, inclusive, a procurar o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), para fazer uma explanação dos seis ou oito processos a que seu cliente responde na Justiça:

- Vou procurar o Tuma e provar a ele que não há nada que impeça o Gim de assumir seu mandato.

Mesmo reconhecendo as limitações do Senado, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) mudou o tom:

- Se ele (Gim) abrir a boca, está no Conselho. Porque vai mentir. Parece que ele não resiste a uma entrevista. E, se mentir durante o mandato, fere o decoro parlamentar.

Gim foi desaconselhado a assumir o mandato até pelos colegas de partido. Oficialmente, ele divulga que espera liberação médica para voltar às atividades políticas. Ele alegou uma crise de estresse. Mas, segundo amigos, está em excelente forma e descansa numa propriedade rural. Gim ainda tem que resolver sua questão com Roriz, que tem dito que foi traído pelo suplente.

- Conversei com o Roriz e ele diz que tem respeito pelo Gim. Agora, não há data para tomar posse. O Gim só volta com as condições perfeitas de saúde. Estamos esperando o médico liberar - afirmou Paulo Goyaz, um dos advogados do PTB.

Gim não tem mais apoio do próprio partido. O presidente do PTB, o deputado cassado Roberto Jefferson, divulgou em seu blog que o aconselhou a não assumir o cargo. Argumentou que Gim era frágil e que, se Roriz não foi poupado, não será o suplente de um partido pequeno que terá apoio. A bancada do PTB não esconde o constrangimento.

- Não sei nada sobre o Gim. Me tire dessa! - disse o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR).