Título: "Candidatura única é erro"
Autor: Azedo, Luiz Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2009, Política, p. 8

Eleições 2010

Em palestra na Câmara, deputado do PSB defende que haja outro concorrente, além de Dilma Rousseff. Debatendo alternativas para a crise, cearense tenta se fortalecer no processo de sucessão

O deputado Ciro Gomes (PSB-CE), que por duas vezes já disputou a Presidência da República, reposicionou sua Candidatura ao Palácio do Planalto em 2010, inconformado com a preferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo nome da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT) para sucedê-lo no cargo. ¿Uma Candidatura única é um erro grave. Lula teria sido eleito se fosse para um confronto bipolar? Teria perdido, sempre¿, disparou, diante de uma plateia de mais de 30 deputados do bloquinho PSB-PCdoB, ontem, no auditório Freitas Nobre da Câmara.

Para reforçar a sua tese, Ciro destacou que o bloquinho tem mais musculatura do que tinha o PPS quando foi candidato pela primeira vez, em 1998, contra Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que disputava a reeleição. A legenda, que abandonou para apoiar o governo Lula, tinha apenas um senador e dois deputados. ¿Quem já foi candidato duas vezes não pode andar por aí e negar que é candidato¿, avisou, com a ressalva de que não pretende se lançar candidato no meio do segundo mandato do presidente Lula. A opção de Ciro é começar a debater alternativas para a crise econômica e os rumos da aliança do PT com o PMDB, que o parlamentar classifica de espúria, para tentar se fortalecer no processo.

Durante o encontro, Ciro falou sobre a crise econômica mundial por duas horas e fez duras críticas ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e ao desempenho do governo Lula na Saúde e na Educação. Outro alvo das críticas do ex-ministro da Integração Nacional é o ministro da Justiça, Tarso Genro, por causa do projeto de reforma política encaminhado ao Congresso, que Ciro considera uma tentativa de liquidação dos pequenos e médios partidos em benefício do PT e do PMDB. Embora defenda o governo Lula, o parlamentar começa a esboçar um projeto alternativo ao de Dilma Rousseff para enfrentar a crise, ao mesmo tempo em que classifica de retrocesso uma eventual volta dos tucanos ao poder.

¿A mesmice na cena política é muito grande, houve uma pasteurização dos partidos políticos. Com Ciro nós podemos começar a discutir um projeto novo para o país, que sensibilize e mobilize parcelas significativas da sociedade¿, comemora o líder do PSB na Câmara, deputado Rodrigo Rollemberg (DF), um dos organizadores da reunião. Rollemberg defende a Candidatura de Ciro a presidente da República e garante que a bancada federal está disposta a levá-lo a todos os estados do país para viabilizá-la. Com discreta atuação na Câmara dos Deputados, para a qual foi eleito com a maior votação do país, Ciro foi um aliado incondicional do governo Lula até agora. Durante todo o primeiro mandato, para surpresa de muitos, manteve-se alinhado ao governo, apesar das duras críticas que fazia à política econômica. Fora da administração federal no segundo mandato, perdeu influência política. Agora, corre atrás do prejuízo.