Título: Renan parte para o confronto
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 11/07/2007, O País, p. 3

Senador discute no plenário, anuncia convocação de sessões e questiona investigações.

Embora a cada dia esteja mais claro seu isolamento, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mostrou ontem disposição de partir para o confronto aberto com os colegas. Da cadeira de presidente, ele se envolveu num bate-boca com o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que voltou a cobrar da tribuna o seu afastamento do comando da Casa. A cena, assistida com constrangimento pelo plenário, levou a oposição a deflagrar um processo de obstrução nas votações. Em resposta, Renan disse que não tem nada a temer e, num gesto de desafio ao PSDB, ao DEM e ao PSOL, avisou que continuará cumprindo seu dever, convocando os parlamentares para votações. Sua disposição para o embate ficou mais evidente com a decisão de contestar formalmente o trabalho do Conselho de Ética, numa estratégia que poderá resultar num questionamento ao Supremo Tribunal Federal.

No fim do dia, Renan convocou para hoje, às 19h30m, sessão do Congresso para a votação da Lei de Diretrizes (LDO), apesar das ameaças de protestos de deputados, caso decida presidir os trabalhos.

- Se precisar, eu presido - avisou Renan.

Mais cedo, ele sinalizara aos jornalistas que não se intimidaria. Perguntado se presidiria a sessão do Congresso, respondeu:

- Tenho cara de quem tem medo?

Na tribuna, Virgílio falou da preocupação de que Renan se valesse do peso do cargo para dificultar ou emperrar as investigações. Relatou que, na reunião da bancada do PSDB, Marisa Serrano (MS), uma das relatoras do caso, informou sobre os recursos do presidente do Senado. Ressalvou que o partido considerou-os legítimos. Mas ponderou:

- Qualquer senador pode recorrer. E, precisamente, é aí que eu faço a nuance. Qualquer senador, o senador que não esteja investido da responsabilidade da presidência do Senado Federal. Qualquer influência que possa vir no sentido de, a partir do cargo ocupado por Vossa Excelência, emperrar as investigações, será considerada por nós de enorme gravidade.

"Não vão me tirar fazendo cara feia"

Renan não gostou e alterou, pela primeira vez desde o início da crise, seu comportamento em reação às cobranças. Reiterou que lutará para que seus direitos não sejam violados. E desafiou a oposição a provar que não usou recursos próprios para pagar a pensão de R$12 mil à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.

- As duas petições que enderecei ao Conselho de Ética foram petições públicas, na defesa dos meus direitos, dos quais eu não abrirei mão. Se quiserem a minha cadeira, e se esse desejo for um desejo político, ocasional, oportunista, circunstancial, vão ter que sujar as mãos, vão ter que dizer ao Brasil e ao mundo por que é que estão tirando o presidente do Senado Federal da sua cadeira - desafiou.

Visivelmente alterado, Renan ainda questionou Marisa Serrano, insinuando que talvez ela não estivesse à altura para representar o partido no Conselho. E declarou não temer o Conselho, a Comissão de Constituição e Justiça, o plenário e nem ninguém:

- Se o PSDB e o PFL tiverem uma prova contra mim, serei o primeiro a dar o primeiro passo. Mas, se não tiver, não arredarei o pé, cumprirei o meu mandato até o último dia. Não vão me tirar da presidência do Senado fazendo cara feia.

- Não sei se foi a mim a que Vossa Excelência se referiu, mas não vim a esta tribuna para fazer cara feia. Tenho de colocar a preocupação com a instituição Senado. Esta é que não deve ser posta em risco por mim, por Vossa Excelência, por ninguém - retrucou Virgílio.

www.oglobo.com.br/pais