Título: Para senadores, permanência de Renan prejudica imagem da Casa
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Fonte: O Globo, 12/07/2007, O País, p. 4

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: O GLOBO ouviu ontem 59 senadores sobre a crise

Parlamentares condenam irregularidade fiscal, mas se dividem sobre renúncia

Ilimar Franco, Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. A maioria dos senadores que votaram em enquete feita ontem pelo GLOBO no plenário do Senado considera que a permanência do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no cargo prejudica a imagem da instituição: dos 59 senadores que votaram, 37 afirmaram que sua permanência atrapalha o Parlamento. A maior parte dos senadores também avalia que é motivo para cassação do mandato a comprovação de irregularidades fiscais na contabilidade de seus empreendimentos agropecuários, apresentada pela defesa de Renan como prova de que tem recursos próprios e que não teve contas pessoais pagas por empreiteira. Essa foi a posição adotada por 33 senadores, contra 15 que responderam não, indicando que os senadores avaliam que problemas fiscais podem constituir quebra de decoro a ser punida com cassação.

- Desde que esses problemas fiscais configurem um ato deliberadamente ilícito para não agir de acordo com a lei e evitar a transparência dos negócios, fica caracterizado que houve quebra de decoro. Isso é diferente de um equívoco na declaração de Imposto de Renda - disse José Nery (PSOL-PA).

Enquete encontra divisão sobre renúncia

A enquete, realizada entre 16h e 20h de ontem, revelou que os senadores estão divididos sobre se o presidente do Senado deveria renunciar ao cargo em decorrência da representação do PSOL, das suspeitas de que teve despesas pessoais pagas por um lobista e da constatação de que há irregularidades na contabilidade de seus negócios. Houve um racha: 23 senadores votaram pela renúncia e outros 23 votaram contra sua saída.

As explicações de Renan ainda não convenceram um contingente importante de senadores. Dos que responderam à enquete, 21 não se convenceram ainda de que ele não recebeu dinheiro da Mendes Júnior para cobrir despesas pessoais. Outros 16 disseram acreditar em Renan.

- O Renan deveria se afastar da presidência, e se dedicar ao esclarecimento dos fatos - disse Eduardo Suplicy (PT-SP), que não quis votar alegando que precisava aguardar a perícia da Polícia Federal e a defesa completa do presidente do Senado.

A enquete foi feita em votação secreta com cédula, e os votos depositados em urnas - a votação de pedido de cassação de mandato no plenário é secreta. O GLOBO procurou 79 dos 81 senadores. Excluiu Renan e o suplente do ex-senador Joaquim Roriz, Gim Argello (PTB-DF), que não assumiu o mandato. José Sarney (PMDB-AP) não foi localizado, e dez senadores não votaram porque estavam fora de Brasília. Nove senadores não quiseram responder, entre eles a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), e Aloizio Mercadante (PT-SP).

- Seria um prejulgamento - alegou Mercadante.

- Não temos mais o que fazer. Agora é levar o assunto a voto para manter ou tirar Renan. Não podemos mais procrastinar o processo - disse o líder do DEM, José Agripino (RN).

COLABOROU Cristiane Jungblut