Título: Dinheiro vivo ficou guardado em casa, diz ele
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Fonte: O Globo, 12/07/2007, O País, p. 5

Empresário alega que fez depósito para evitar "distorções maiores"

BRASÍLIA. O empresário Nenê Constantino confirmou ontem o depósito notificado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), e alegou que manteve parte do dinheiro em casa por tanto tempo por uma questão pessoal. Esta é a primeira vez que Constantino fala sobre o caso, desde que o escândalo veio a público.

"O dinheiro, por simples comodidade de minha parte, ficou guardado em espécie e devidamente contabilizado. No entanto, em função de toda a polêmica, para evitar distorções ainda maiores, resolvi depositá-lo em agência bancária do Banco do Brasil onde possuo conta corrente, o que fiz no último dia 3 de julho, num valor total de R$1.931.155,60", afirma na nota.

No texto, o empresário diz ainda que não se manifestou antes para não se envolver num processo político, e que foi alvo de manifestações equivocadas e maldosas: "Preferi o silêncio, pois não sou nem nunca fui político e não quis interferir num processo que me é estranho."

No dia 13 de março, data do saque do cheque do empresário, o então senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) foi flagrado numa conversa em que combina com o ex-presidente do Banco Regional de Brasília (BRB) Tarcísio Franklin a partilha dos R$2,2 milhões. A conversa faz parte de um dos 72 mil áudios da Operação Aquarela, gravada com autorização judicial. Depois da divulgação do conteúdo do diálogo, Roriz renunciou ao mandato para evitar a cassação. Gim Argello (PTB-DF), suplente de Roriz, ainda não assumiu a vaga. Gim é suspeito de ter ficado com parte do dinheiro.

Ministério Público investiga fraudes de R$400 milhões

A suspeita de uma farsa para sustentar a versão de Roriz surgiu com um relatório do Coaf. O documento informa o depósito na conta de Constantino. O Coaf considerou a operação atípica, pelo alto valor.

Depois da divulgação da conversa sobre a partilha do dinheiro, Roriz confirmou o recebimento do cheque de Constantino, mas negou qualquer irregularidade na transação. O ex-senador alega que apenas tomou um empréstimo de R$300 mil de Constantino, de quem é amigo. Constantino teria dado o cheque de R$2,2 milhões para que Roriz fizesse o saque, retirasse os R$300 mil do empréstimo e devolvesse o restante, R$1,9 milhão. Constantino teria, então, guardado o dinheiro. Roriz afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentaria o depósito de R$1,9 milhão feito por Constantino. A Operação Aquarela investiga fraudes de R$400 milhões no BRB. Os promotores investigam se há relação entre a partilha do cheque com a venda de um terreno do BRB. Após passar pelas mãos do ex-deputado Wigberto Tartuce, o terreno foi comprado pela Aldebaram, empresa que teria Constantino entre seus acionistas.