Título: Laranjas e companhias fantasmas teriam movimentado até R$7 milhões
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 11/07/2007, Economia, p. 22

OPERAÇÃO ÁGUAS PROFUNDAS: Uma das empresas captava recursos do governo.

Grupos que atuavam no esquema eram ligados por contador Ruy Castanheira.

Dois grupos, ligados pelo contador Ruy Castanheira de Souza, foram descobertos pela Polícia Federal (PF) atuando em fraudes em licitações e na captação de recursos da Petrobras. O primeiro era encabeçado pelos empresários Fernando da Cunha Stérea, Mauro Luiz Soares Zamprogno, Wladimir Pereira Gomes e Simon Matthew Clayton. Eles fraudavam licitações da Petrobras e lavavam o dinheiro usando empresas fantasmas criadas por Castanheira. O outro, também sob o comando do contador, captava recursos da Petrobras e do governo do Rio - usando ONGs - simulando gastos e serviços inexistentes. O dinheiro era lavado em contas fantasmas, segundo relatório ao qual o GLOBO teve acesso.

O segundo grupo tinha ainda como integrantes Ricardo Secco e os laranjas Wilson Ribeiro Diniz e Ricardo Moritz, em nome dos quais estariam as principais empresas fantasmas criadas pelo contador.

- Eram laranjas e administradores dos recursos de Ruy Castanheira - disse o delegado Claudio Nogueira, da PF, que comandou as investigações, referindo-se a Diniz e Moritz.

Contas registraram movimentações milionárias

Segundo cálculos feitos pela Polícia Federal, há suspeitas de movimentações financeiras ilícitas de até R$7 milhões nas contas de laranjas e das empresas fantasmas administradas, teoricamente, por Castanheira. O contador é apontado como o principal idealizador "do esquema ilícito operado para a movimentação clandestina de ativos financeiros", escreveu em seu relatório o delegado federal. Ainda segundo Claudio Nogueira, "em outra vertente identificada pelas investigações, surgiu Ricardo Secco, que, contando com o auxílio de Castanheira, engendrou um bem articulado esquema para o desvio de dinheiro público por meio de empresas fantasmas".

O grupo, segundo a PF, chegava a pagar até R$12 mil de propina para corromper servidores, entre eles a fiscal da Feema, Ana Celeste Alves Bessa. Era através dela, segundo as investigações, que os criminosos obtinham licenças ambientais para instruir as licitações públicas. Ela não só recebia propina como era intermediária para o pagamento de propina a outros servidores.

Ana Celeste estava afastada das funções desde novembro de 2004, quando foi acusada de também receber propina. Ela foi uma das investigadas da Operação Poeira no Asfalto, deflagrada para combater a máfia dos combustíveis no estado e que resultou na prisão de 42 pessoas. Entre os presos estavam 21 policiais rodoviários federais, quatro fiscais de tributos estaduais, três fiscais da Feema, dois policiais civis e um bombeiro, além de empresários e empregados do setor de combustível.

Angra Porto era a principal empresa usada na fraude

A PF informou que o grupo utilizava principalmente a empresa Angra Porto, forjando uma contabilidade (caixa 2). Os pagamentos eram feitos através de cheques ao contador, que providenciava depósitos em contas pertencentes a empresas fantasmas administradas por ele, mas em nome de laranjas. Os policiais federais descobriram que a empresa Angra Porto Offshore "foi criada única e exclusivamente para a realização de contratos administrativos para a Petrobras".